O que apascenta recebe o mesmo Reino dos que é chamado a apascentar

[Leitura] Ez 34, 1-11; Mt 20, 1-16a

[Meditação] A Palavra de Deus é uma “espada de dois gumes” em qualquer tempo e situação. Diante o episódio dos trabalhadores contratados a horas diferentes e pagos segundo a mesma moeda, coroado com a máxima «os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos» vem-me à mente a ideia de que não vale a pena andarmos a alimentar uma forma de viver a fé com um zelo farisaico, porque, na hora, devida, os bens do céu são do Senhor e Ele distribui-os conforme quer. São d’Ele! Não cabe a nós senão aceitar o convite a entrarmos na sua lógica. Não vá acontecer (como se suspeita, por vezes!) que aconteçam com os bens do Reino o que acontece com os bens de uma nação: os que detêm o poder político usam os bens dos pobres para se enriquecer a seu bel prazer. Ainda bem que é de forma diferente, Senhor, com os bens do alto!

Portanto, o zelo dos pastores, à luz da Palavra de hoje, penso dever ser correspondente às necessidades das ovelhas sem que disso tire proveitos. “Ter cheiro a ovelhas” pode significar, no convite do Papa Francisco, estar marcado pelas mesmas caraterísticas dos que somos chamados a servir, o que faz com que os pastores não sejam uns intocáveis ou alienáveis das contingências das suas “ovelhas”. É neste sentido que o Papa, porventura, olha para uma Igreja que não sai do monte em que tudo se providencia estar bem, esquecendo-se por vezes dos que vivem debilmente (seja física, psíquica ou moralmente) nos vales da existência. É preciso deixar de aprovisionar dentro para obrigar a sair para fora, com pouco em matéria, mas muito no coração. Neste sentido, no meu humilde ver, os acórdãos com os sistemas de segurança social são uma “muleta” que impede a Igreja de sair. Quero dizer que ainda não me parece ser o modelo ideal para que a Igreja seja a antecâmara do Reino, em matéria de pastoral social. Jesus Cristo nasceu e habitou no vale da existência humana, para, de braços dados com a humanidade, levá-la a subir o monte da salvação. Imitá-l’O nesta matéria parece ser um imperativo evangélico que não precisa de muitos argumentos para se propor.

[Oração] Sal 22 (23)

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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