O milagre acontece, a “caravana passa” e, ainda assim, os “cães”…
[Leitura] Os 8, 4-7. 11-13; Mt 9, 32-38
[Meditação] É incrível como, diante de um milagre de Jesus que livra um homem de um mal grave que o impede de se comunicar, pode haver dois tipos de reações tão díspares: «nunca se viu coisa semelhante em Israel» e «é pelo príncipe dos demónios que Ele expulsa os demónios». Com certeza, estas duas posturas referem-se a dois tipos de “cumprimentos de onda” em relação à perceção da realidade de um Deus que se abeira da humanidade para a salvar. Segundo a ciência que se conhece, as capacidades auditivas entre os humanos e os cães são diferentes (estes mais evoluídos no que toca aos ultrasons), mas o que os faz reagir, por vezes, de forma inconveniente é semelhante: em geral, é pelo medo que manifestam quando alguém entra no território demarcado por eles, sentindo insegurança e frustração. É este, também, o caso dos fariseus diante da contrastante admiração da multidão face ao poder de Jesus. Mas Este, como vimos ensinar no domingo passado (Lc 10, 1-12. 17-20), não se demora pelo caminho e não faz muito alarido com o bem que faz, percorrendo «todas as cidades e aldeias», «ensinando», «pregando o Evangelho do Reino e curando de todas as doenças e enfermidades».
Jesus não andava a erguer “altares”, porque era Ele “O Altar” onde o Pai servia e nos serve compassivamente a salvação, com a força do Espírito Santo. Ao contrário, os fariseus estavam agarrados aos altares que não salvam, onde se costumavam a servir a eles próprios. Então, Jesus reage divinamente com a compaixão que não se exerce com argumentos humanos, mas com a força da Palavra divina. É aqui que reside o cerne da questão da falta de operários. Faltava, no tempo de Jesus, como nos continua a faltar hoje, gente que trabalhe mais do que fale. A “seara” é o mundo todo e não o “beco” onde, de vez em quando, nos fechamos, o nosso “mundo” particular, onde costumamos fazer girar toda a nossa vida pessoal e comunitária. A possessão é, pois, deste espírito doente que resiste ao Espírito de Deus.
Os habitantes do mundo precisam do contribuo de homens e mulheres livres, sem preconceito, o pior dos “altares” que impede de reconhecer a novidade que Jesus Cristo nos quer mostrar através das mediações que considerar necessárias. Não podemos ficar fechados só em cidades, nem só em aldeias, mas ser capazes de, como o Mestre, nos sabermos aproximar de todos com a capacidade da compaixão. E há, até, “ovelhas sem pastor” em outras latitudes a que o Papa Francisco chama de “periferias existenciais” a que é preciso ir para anunciar a Palavra do Amor de Deus. Se a Igreja, hoje, não for capaz de responder a este chamamento com a resposta de novos estilos de vida, corre o risco de ver fechados em museus os atuais modos de viver a consagração como hábitos fechados a vestir manequins. Daqueles com uma voz que sai como de um gravador a criticar todos e tudo aquilo que não se adequa ao status que dá uma (falsa) segurança ao seu (sobre)viver. Em vez de nos ficarmos a lamentar de que há pessoas que não sabem o que fazemos dentro da Igreja, somos chamados a sair a explicar-lhes através de atitudes que credibilizam a a verdadeira fé. Não tenhamos medo das críticas dos que nada ou pouco fazem ou, fazendo, se substituem ao verdadeiro Altar.
[Oração] Sal 113 B (115)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo