Na “casa” da vida cristã, conserve-se o alicerce e reconfigure-se o edifício
[Leitura] 2 Reis 24, 8-17; Mt 7, 21-29
[Meditação] As parábolas que Jesus conta a partir do Evangelho costumam traduzir-se em lições claras e práticas para a vida, a não ser que culturalmente estejamos muitos distantes de alguns elementos que elas contêm. Uma dessas parábolas é a que proclamámos hoje, sobre a sensatez e a insensatez, na construção, respetivamente, da casa sobre a rocha firme e da casa sobre a areia. Fá-lo para sugerir que a nossa vida cristã não pode ser construída a partir de uma oração desencarnada, mas através da prática da Palavra que se escuta e se reza.
No entanto, ao escutarmos, ainda que repetidamente estas parábolas, corremos o risco de as acolhermos como sempre as acolhemos, lendo-as com os parâmetros hermenêuticos fechados e estereotipados, como quando, por exemplo, pensamos sempre melhor de Maria do que de Marta só por termos ouvido uma vez dizer a Jesus que aquela escolheu a melhor parte. Estas leituras redutoras costumam vir de uma leitura não global da Escritura como um todo, levando-nos a tecer o acolhimento e a prática da Palavra de Deus, frequentemente, com parâmetros dicotomistas. E, então, que virtualidades podemos descobrir para hoje nesta parábola da casa sobre a rocha e da casa sobre a areia? Que modelo interpretativo nos leva a pôr a encarnar Palavra?
O título deste post sugere que pôr em prática a Palavra implica ter esta como a rocha firme que é Cristo, aceitando que, com o andar do tempo, por vezes, precisamos de alterar as paredes do edifício da vida. O que nem sempre costuma acontecer. Jesus, ao desvalorizar o estilo orante caracterizado pela aclamação “Senhor, Senhor” está a dizer-nos, mais ou menos como: se não mudas nada na tua vida ou na relação com os outros que te seja sugerido pelo sentido da minha Palavra, de que vale vires continuamente à oração sem a predisposição a mudar? Cá para nós: por vezes, corremos o risco de ir continuamente ao encontro do Senhor com o simples desejo de que seja Ele a mudar. É por isso que o Papa Francisco nos quer “em saída”: para não amarrarmos Jesus dentro, deixando-O sair para fora da nossa autorreferencialidade. Para isso, pessoas e instituições eclesiais (mesmo até as mais “canónicas”!) têm de perder as suas prepotências e prerrogativas, para que a Palavra possa ver a “luz do dia”. Assim veremos melhor este “alicerce” sobre o qual poderemos reconstruir “edifícios” melhores e melhores “tetos” para as necessidades do contexto de hoje. Instituições que mudam de figura e pessoas transformadas é sinal de Palavra praticada, assim como maus frutos visíveis são sinal da existência de falsos profetas.
[Oração] Sal 78 (79)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo