Ao tocar-nos nas nossas “mortes”, Jesus devolve-nos à verdadeira vida
[Leitura] 1 Reis 17, 17-24; Gal 1, 11-19; Lc 7, 11-17
[Meditação] Sarepta e Naim podem muito bem ser cidades-metáfora de perdas sem sentido, quer se refiram à morte física, quer ao abandono da felicidade. Já Jerusalém pode significar a entrega com sentido, mesmo que ela implique espírito de sacrifício. A cena do Evangelho é clara: Jesus quer visitar Naim, para levar aos seus habitantes a Boa Nova. Num cruzamento, encontra-se com um desfile de morte. Acontece um cruzamento desta com a vida. E o que ganha? A vida nova. Com o seu toque e a sua voz, Jesus devolve a vida a quem a perdeu, devolvendo, também, a pessoa à sua pertença (à mãe) e à sua proveniência (à comunidade). Naim e aquela mãe podem simbolizar as comunidades e as mães que perdem os seus filhos quando estes perdem ou não encontram o sentido de viver, inundados por propostas de não-vida.
Para contrariar esta “procissão” de morte, é útil as famílias aceitarem o convite profético a entregar os filhos a Deus, como pede Elias àquela mãe que não sabe mais o que fazer («Dá-me o teu filho»). A quem jaz nos “leitos de morte” (propostas de não-vida) é feito o convite à frequentar-se os “leitos de vida” (propostas de vida), escolhendo-se, assim, a direção e o caudal do rio em direção à proposta da sua nascente, mesmo quando se tem de desaguar ao mar da vida. Muitas famílias, nitidamente, andam à deriva, ao não saberem se a ocupação dos seus filhos darão ou não em futuros de vida com sentido de felicidade. entregam-nos a todos os tipos de propostas, indiferenciadamente e, por vezes, sem um acompanhamento atento. De seguida, podem suceder-se lamentos por não terem seguido o caminho que sonhavam ou, até, alguma catástrofe com que não contavam. É certo que o futuro é um mistério, mas alguns efeitos são semeados com certas causas.
É hora, para quem tem fé, de ter a coragem de não consultar a carne, mas o Espírito, seguindo o caminho traçado pelo Evangelho em direção à “Jerusalém” que é a vocação de cada um, como desígnio de felicidade, no diálogo entre o amor de Deus e a liberdade de cada ser. É preciso deixar esquemas que, hermeticamente, nos fecham ou nos enclausuramos, perdendo vida. É hora de nos deixarmos tocar por Jesus que passa constantemente, de escutar a sua voz que indica o que fazer no momento em que a vida não corre bem. Para quem não crê, é urgente que quem acredita se faça arauto do Evangelho, fazendo-se presente nos caminhos onde os vários tipos de morte estão presentes a tentar dar o sentido que não podem. O sentido está na escolha do bem que dá vida, mesmo que isso implica algum sacrifício, uma vez que o mal, por natureza própria, só parece oferecer prazeres (ainda que efémeros). Tudo o que o Senhor toca, Ele revigora para devolver à sua pertença e proveniência, até que chegue a hora definitiva como foi para Jesus a sua entrega em Jerusalém, o lugar derradeiro onde tudo encontra clareza em Deus.
[Oração] Sal 29 (30)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo