Reveste um nu por fora para que Ele te invista de santidade por dentro

[Leitura] Lev 19, 1-2. 11-18; Mt 25, 31-46

[Meditação] Para muitos dos cristãos, a vivência da fé batismal deve ter regredido ao tipo de religião que Jesus encontrou no seu tempo: o cumprimento dos ritos no templo, respeitando a herança dos antepassados, se uma coerente vivência da mensagem e da graça que lhes é transmitida. Nota-se esta regressão, inclusivamente, na rigidez de alguns jovens que, sem saber porquê e contrariamente ao espírito vivido noutras dimensões (amizades, escola, escolha da vocação, etc.), colocam na realização das mesmos ritos (sobretudo nos de piedade popular). Não temos dúvidas do poder dos Sacramentos, que é poder divino, mas… participar neles sem uma mínima identificação com Cristo no relacionamento prático com os pobres, ao que levará? É por isso que o Papa nos convida a ser Igreja «em saída»…

Há muito que nos queixamos de uma fraca formação cristã, apesar da (relativa) prática sacramental. Duvida-se da interiorização dos valores da mensagem Evangélica a comprovar-se pela prática e parece ter-se tergiversado grande parte da doutrina no contacto com os problemas da vida social. Rezámos na oração Colecta deste 1º Domingo da Quaresma: «Fazei que a nossa vida, Senhor, corresponda sempre à oferta das nossas mãos…». Se Lhe dermos muito pouco das nossas vidas, o que esperaremos receber do Senhor? Ele dá-nos o Seu Espírito (no Batismo e na Confirmação…) e o que é que fazemos com os Seus dons? Estatística do abandono?

Nitidamente, precisamos de uma “etapa misericordiosa”, para, com a benevolência que recebemos de Deus, darmos conta daquilo que precisamos de fazer pelos irmãos mais pobres, com o qual o Deus-feito-homem, Jesus Cristo, Se identifica. É neste círculo virtuoso que somos convidados a entrar para sermos confirmados na santidade de Deus. E se convidarmos os jovens a entrar, melhor! Eles são os detentores do entusiasmo que precisamos, talvez em forma escondida, mas a precisar de novidade de linguagens e meios. Não basta ficarmos agarrados a uma forma tradicional de viver a fé: é preciso sair à rua para descobrirmos outras novas, para que ninguém fique de fora do alcance que Jesus quis dar ao seu projeto de salvação. Talvez os jovens sejam mesmo os destinatários que a Igreja precisa de atender… hoje. Basta de “ou cumpres ou não há nada para ti”… Vamos ter com eles, onde eles têm direito ao acompanhamento que os leve aonde Deus e eles quiserem.

E quanto aos ritos, o Papa Francisco disse há pouco tempo a jovens argentinos que se cumprissem o que está escrito no capítulo 25 do Evangelho segundo São Mateus, que seriam salvos. Jesus não mente! Para quê enclausurarmos a vivência da fé num mero cumprimento de ritos vazios de caridade? Para quê celebrar Jesus dentro se não nos identificarmos com Ele fora? Os pobres que passam fome, que não têm que vestir… estão bem dentro, no coração de Jesus Cristo. Queremos comungá-l’O  desta forma? Então também podemos comungá-lo na Eucaristia. Na Palavra proclamada e no seu Corpo e Sangue encontramos a graça com que Ele nos quer fazer Santos, não os “amuletos” da espécie de santidade que queremos ou defendemos. As obras de misericórdia são “andaimes” da santidade. Sem eles a segurar por fora não haverá edifício com a santidade dentro… (é o que nos sugere o Levítico) até que venha definitivamente a vida eterna!

[Oração] Sal 18 B (19)

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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