A arena na tentação, o culto a Deus e os benefícios colaterais
[Leitura] Deut 26, 4-10; Rom 10, 8-13; Lc 4, 1-13
[Meditação]A tentação é uma “arena” onde somos provados através de um combate que, segundo o P. Nuno Tovar de Lemos (s.j.), acontece debaixo de 4 regras: 1ª − a cada pessoa a sua tentação (as tentações são personalizadas, dizendo respeito à história de cada pessoa); 2ª − toda a “boa” tentação há de ter duas qualidades: a primeira é fascinar, a segunda é desviar (em si mesmas, as coisas não são boas nem más, mas o uso que fazemos delas é que pode ser mau ou bom, sendo tentações somente as coisas que desviam as pessoas do bem); 3ª − a aparência de toda e qualquer tentação há de ser boa e positiva; 4ª − o único poder da tentação é a liberdade de escolha (as escolhas é que são boas ou más).
Certamente já aconteceu ao crente leitor (e, também, se for não crente, embora quem está mais perto de Deus, sob o Seu Espírito, é, porventura, mais tentado) esgotar-se num trabalho e, no final, no momento de dar o “grito do guerreiro” (gíria de tirar uns momentos merecidos de descanso) sentir-se tentado a fazer algo que não estava no “menu” do “superego” (onde guardamos as regras que herdámos). Somos capazes de dar tudo num trabalho esforçado, no final corremos o risco de cultuar outro deus sem ser Aquele a quem fomos chamados ou nos propusemos servir. O que se terá passado? O perigo mais desviante costume estar não no centro, mas nas bordas da arena. No centro da arena, lutamos pela pobreza, pureza e pelo perdão; na borda somos apanhados na trápola do possuir, do prazer e do poder. Não é só uma questão da tradução da linguagem dos “p’s”, mas, para um sentido da vida mais feliz, é uma questão de falar um só idioma: o dos “p’s” que prestam unicamente culto ao Deus de Jesus Cristo que, cheio do Espírito Santo, permaneceu sempre o mesmo no Jordão, nos quarenta dias do deserto e à saída dele apanhado no confronto com o tentador.
Na arena da tentação, cultuar só a Deus traz benefícios colaterais. Estes podem não ser permanentes, enquanto fizermos esta experiência terrena, mas também não terão a última palavra. A Palavra de Deus não cairá em “saco roto” e transformar-nos-á pouco a pouco em seres voltados para Deus e para os outros, misericordiosos e solidários, a falar o idioma dos “p’s” inspirados pelo Espírito de Deus. Para isso, convém não argumentar com a Palavra (o tentador também o fez!). Esta transmite-no-la Jesus Cristo e deve ser acolhida como tal, no silêncio, para que possa saciar o nosso íntimo no tempo da fome, ou seja, depois de uma grande batalha (acalmando o tal “grito do guerreiro”). A resposta pode acontecer com atitudes interiores e hábitos exteriores que nos ajudem a desenhar um estilo de vida solidariamente feliz.
[Oração] Sal 90 (91)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo