Jejum misericordioso no percurso para o reencontro
[Leitura] Is 58, 1-9a; Mt 9, 14-15
[Meditação] De facto, o jejum “por tradição” não faz sentido, sobretudo se continuarmos a repetir todas aquelas ações que o contradizem. O jejum que agrada ao Senhor é aquele que se desdobra em atitudes de misericórdia e nos permite, sim, reelaborar o luto das nossas perdas, aceitando-as como acesso a um novo encontro com Aquele que, afinal, está vivo e quer, de novo, chegar à nossa companhia e dizer-nos: «Estou aqui.»
Para utilizarmos o jejum como meio de conversão, requer-se em primeiro lugar que se antecipe como programa de vida um objetivo: claro e concreto, ainda que pequeno. Este não deve servir, só, para diminuir a obesidade física, mas também a obesidade espiritual. Para isso, tenham-se os dois tipos complementares de jejum nas obras de misericórida − corporais e espirituais − como carris do mesmo percurso.
Uma das bem-aventuranças que Jesus declarou como caminho para se viver uma vida bem conseguida foi: «Felizes os que choram, porque serão consolados» (Mt 5, 4) implica a elaboração do luto que, no contacto com os recursos interiores, nos permita o desapego a substitutos (sejam eles materiais/simbólicos ou espirituais/religiosos) do verdadeiro encontro que nos está prometido pelo Ressuscitado e que podemos antecipar no encontro real e profético com os irmãos mais pobres, com que Ele Se identifica, na Liturgia onde Ele preside, pela Palavra escutada e praticada. Tudo o que não é identificável com o Mestre é “dia-bólico”, separando-nos da possibilidade de nos reencontrarmos com Ele, na sua Páscoa gloriosa.
Para ser misericordioso, o jejum precisa de ser acompanhado de um contínuo exame de consciência, igualmente misericordioso, porque o jejum “obriga” o nosso ser interior a falar coisas agradáveis e desagradáveis, todas úteis para ativarmos as “vísceras” que nos levarão a “misericordiar” no encontro com o “esposo” nos irmãos.
[Oração] Sal 50
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo