Jesus é graça gratuita que transborda do templo

[Leitura] 1 Re 8, 1-7. 9-13; Mc 6, 53-56

[Meditação] Nos últimos tempos, talvez a graça de Deus tenha sido fechada nas igrejas, como “prémio” dos que, visivelmente, manifestam provas de conversão. Já ouvimos, por várias vezes, o Papa Francisco afirmar que essa graça não é um “prémio” para os bons, mas um alimento para os fracos. Na única e última vez que visitei Taizé, constatei que a comunhão é oferecida aos ausentes da Missa, depois desta nas Laudes. Fiquei surpreendido, mas não escandalizado! Recordei, na declaração de um dos Irmãos num workshop, aquilo que a história da Liturgia da Igreja nos conta dos primeiros séculos da Tradição cristã (Séc. IV?): a comunhão era, de facto, levada aos ausentes. Hoje, ela é levada aos doentes, é um facto. Mas consideramos doentes só os de sofrimento físico e ignoramos os de sofrimento psicológico e espiritual/moral, que têm pernas para andar, mas muitas vezes lhes falta o ânimo para viver e, somente, tentam sobreviver. Teremos, mesmo, reduzido a pessoa a um ser meramente físico, como se não fosse uma unidade bio-psíquica-racional/espiritual?

Por outro lado, a consideração dos Sacramentos como ações salvíficas do Sumo Sacerdote Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, encontro com Ele nas circunstâncias pessoais nem sempre esteve na ordem do dia da pastoral. Houve tempos de casuística e taxação, e esses tempos já passaram, graças a Deus! No entanto, continua a haver um certo condicionalismo legalista e rubricista que não encontra muito fundamento no Evangelho de hoje, em que Jesus estava sempre em travessia pelos lugares onde sabia que Se podia deixar encontrar para que os doentes pudessem tocar nessa fonte de graça, sem nenhum empecilho quantitativo de tempo ou emolumento, nas praças públicas! “E todos os que O tocavam ficavam curados”! Não devo deixar de referir que, em Taizé, também há momentos dados à celebração do Sacramento da Reconciliação, igualmente aproveitados por muitos para o encontro com a misericórdia de Deus.

Em relação ao relato do Primeiro Livro dos Reis, a ação de Jesus representa continuidade ou progressão? Talvez progressão, tendo em conta que, no Novo Testamento, o Templo é Ele e, como tal, não é de pedra, mas o Deus vivo próximo da humanidade. Esta progressão não escusa a Igreja de uma pastoral litúrgica bem preparada e de uma Liturgia bem celebrada, em templos físicos visíveis, a ser sinal de portas abertas para acolher. No entanto, o Papa Francisco pede-nos que sejamos, «em saída», discípulos missionários, a levar gratuitamente esta graça aos que não podem − por razões físicas, psíquicas e racionais/espirituais − deslocar-se. Telvez precisemos, para além das “vocações de manutenção”, de “novas vocações” para distribuir fora a graça que se conserva dentro.

Em Taizé, aprendi que a CONFIANÇA é o melhor antídoto contra o legalismo e o rubricismo. Será, também, certamente, o melhor atrativo para o encontro com a graça de Deus. Penso ser, também, essa mesma confiança que as nossa pastoral comunitária precisa, no meio de tanta ansiedade programática que, por vezes, esquece que o seu primeiro objetivo é o bem das pessoas.

[Oração] Sal 131 (132)

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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