Misericórdia, a mais eloquente “relíquia” dos mártires
[Leitura] 1 Sam 24, 3-21; Mc 3, 13-19
[Meditação] Todo o tipo de ações nobres são encimadas por uma coroa de alguma espécie de martírio, muitas vezes, até, de “sangue invisível” (o chamado “martírio branco”). Todos os mártires, entre os quais se encontra São Vicente, poderiam ter escolhido uma forma de escapar ao sangue derramado por Jesus Cristo, como fizeram, de forma afetivamente e efetivamente diferente, Simão Pedro e Judas Iscariotes. Das relíquias que sobraram, talvez a misericórdia de Deus seja a que fala melhor, hoje, através do testemunho dos cristãos, do amor infinito que Deus demonstrou por Jesus Cristo à humanidade.
Num grupo de catequizandos tive a oportunidade de perguntar: se hoje Jesus viesse ao mundo em carne e osso, será que os homens voltariam a matá-l’O? Das respostas que obtive, um disse que não, que O iam adorar; outro respondeu que se fosse ao Oriente sim, matá-l’O-iam. Depois disse-lhes que se Ele viesse à Europa, talvez alguns O ridicularizassem. Não discordaram desta hipótese! Estávamos a fazer a leitura orante da Parábola do Bom Samaritano. De facto, os cristãos tanto podem ser vítimas às mãos dos salteadores, como mal olhados que é suposto não passarem por “terreno estrangeiro”, ou como sacerdotes que só querem adorar a Deus sem amar os irmãos, levitas que só olham à carreira abençoada ou estalajadeiros à espera que alguém venha comparticipar com a ajuda dos serviços sociais. O Jubileu sugere-nos sabiamente: “Misericordes sicut Pater” (Misericordiosos como o Pai), o que implica, por vezes, perder tudo, inclusive a própria vida.
O exemplo dos mártires é o que há de mais nítido sobre como o Pai demonstrou o Seu amor em Jesus Cristo maltratado, morto e ressuscitado. A alternativa ao martírio é a Reconciliação, como a que aconteceu entre Saul e David, Pedro e Jesus. Judas é que não foi capaz de se reconciliar consigo próprio e com o coração infinitamente misericordioso de Jesus. Hoje em dia, são-nos propostas as obras de misericórdia. Estas podem ser consideradas “relíquias” dos mártires, desde que as façamos de forma desprendida, pois custou o sangue a quem nos deixou delas o exemplo máximo. São as mais eloquentes, porque são palavras em ato, embora, também hoje, quem as faz possa ser ridicularizado, se não incluído dentro de um “marketing” de proveito próprio. David poderia ter utilizado o pedaço de manto do Saul para “troféu”; preferiu utilizar a ação misericordiosa como “relíquia”. Assim, Jesus chamou os Doze para aprenderem a ser arautos dessa justiça de Deus.
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