No Jordão, Jesus inaugurou o Batismo de Misericórdia

[Leitura] Is 42, 1-4. 6-7; Act 10, 34-38; ou: Is 40, 1-5. 9-11; Tit 2, 11-14; 3, 4-7; Lc 3, 15-16. 21-22; DN Desporto

[Meditação] Na Universidade Gregoriana de Roma, onde estudei, fiquei surpreendido como os professores nos avaliavam: partiam do pressuposto que sabíamos tudo o que partilhavam, pondo a possibilidade de termos, à partida, a nota máxima (que ali era o 10). Com a participação nas aulas, os trabalhos científicos, os testes periódicos e os exames, tínhamos de demonstrar isso mesmo: que sabíamos o que tínhamos herdado na sua sabedoria durante os tempos letivos. Aquela nota máxima ia descendo, também, à medida que demonstrávamos não saber o que deveríamos saber. É, também, assim que nascemos como filhos de Deus: à partida, herdeiros, em Jesus Cristo, da graça que nos atrai e edifica, de forma que somos justificados por ela e não propriamente pelas boas obras que possamos fazer (estas são resposta, apressando a entrada no Reino; a sua omissão, atrasam-na!).

À luz das leituras da Festa do Batismo do Senhor, reflito que o que terá acontecido no rio Jordão terá sido, mesmo, a inauguração do Batismo de Misericórdia. Jesus, que não precisava de se enfileirar naquela experiência tradicional de purificação, aguarda que todo o povo seja batizado para Se sujeitar ao rito. Ele, na verdade, é solidário para com os descendentes de Adão, querendo também demonstrar que é possível descer a essas águas, onde um dia ficou sepultada a relação com Deus, por causa do pecado, e sair de lá para uma nova forma de viver essa relação, através da vida nova do Espírito Santo. O céu que outrora Adão “fechou”, foi novamente aberto por Jesus que, com a Sua oração confiante, recebeu a confirmação do Espírito do Amor do Pai.

O Batismo do Senhor é, assim, como que uma segunda manifestação ou epifania de que é Ele o Messias. Aos Magos, revelou-se de uma forma intelectual; no Jordão, revela-se afetivamente, aos corações expetantes do povo. João Batista sentia-se bem disposto em declarar que o Messias era Jesus Cristo. Assim, também ele preparou um povo bem disposto para o Senhor o confirmar no Espírito. Por estes dias, no Dakar’2016, o português Pedro Gonçalves deu uma lição de humanidade que tem a ver com o tipo de justiça que estamos a contemplar em Jesus Cristo como obra de misericórdia para com a humanidade: suspendeu a sua corrida em primeiro lugar para assistir um austríaco, declarando «Não sou um herói, sou um ser humano com respeito pelos outros. A nossa vida vale mais que qualquer vitória, sem ela não vencemos!» E não deixou de chegar em primeiro lugar, de duas maneiras: na corrida desportiva e no respeito para com o homem caído e impossibilitado de correr. Penso que é assim, que podemos viver o Batismo, na Igreja e no mundo: sujando as mãos com os outros se preciso for para os elevar, mesmo se chegarmos atrasados, para não chegarmos aos céus, em primeiro, com elas limpas, mas vazias!

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