Conquista da Paz: uma operação ao coração que se faz sem anestésicos
[Leitura] Num 6, 22-27; Gal 4, 4-7; Lc 2, 16-21; PAPA FRANCISCO, Mensagem para o Dia Mundial da Paz
[Meditação] Crer em Deus pode corresponder a crer na humanidade; caminhar na vocação universal à santidade não é contrário a viver a vocação universal à fraternidade e à vida comum, como no Hino da Glória cantado pelos Anjos se juntam o “Glória a Deus” com a “Paz aos homens”. Construir a paz não é só uma questão de desarmamento; é preciso começar por desarmar o interior de cada um de nós no que existe de incompatibilidade entre mente e coração, o que se professa e o que se pratica, entre a aparência e a realidade. Paz é uma questão de coerência e unidade interior, antes, mesmo, de ser perfeição na convivência exterior. A indiferença, de que o Papa Francisco fala na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz, é uma consequência da falta de paz que vivemos dentro de nós.
Na referida Mensagem, o Sumo Pontífice marca os parágrafos da sua reflexão com a gradação entre a esfera individual e a esfera social, no que toca à relação com Deus, à relação de uns com os outros e à relação com a mãe terra que temos como “casa comum”. Ao longo de todo o documento é clara a profecia de que a indiferença em relação aos problemas da injustiça social tem como causa primária a indiferença a Deus, derivando-se, consequentemente à falta deste alicerce fundamental que é a bênção de Deus (Livro dos Números), em outras várias formas da «globalização da indiferença»: a rendição diante de tanta informação que leva à desatenção aos acontecimentos circundantes e ao entorpecimento que leva à apatia, da que deriva, por sua vez, o crescimento de práticas e políticas egoístas que, inclusivamente, acabam por poluir o ambiente.
A conversão do coração é o remédio que o Papa Francisco nos sugere como terapia para a indiferença. Na verdade, a indiferença não tem somente causas exteriores, mas também dos sentimentos do interior da pessoa, a observar desde o primeiro fratricídio histórico causado por Caim a Abel, causado pela inveja do primeiro ao segundo. A conversão inicia-se com o mesmo método usado por Deus, muito bem patente na libertação do Egito: estar atento e agir. Em Jesus Cristo, incarnou e mostrou-Se solidário para com os homens, sujeitando-Se à sua condição, menos no pecado. A misericórdia, que é o coração de Deus, é a medida também recomendada a todos os seus filhos, traduzida por atitudes que respondam à emergência dos que sofrem. A conversão do coração requer a realização de um programa de vida solidária que manifeste a evidência do amor de Deus na ocupação prática pelo bem comum. Maria teve um coração puro desde sempre, não deixando de cuidar dele para ser capaz de cuidar de Jesus, sem deixar que nada de mal interferisse nesta sua nobre missão.
De tudo isto se conclui que a paz não é, meramente, um meio. Tem um princípio, ou melhor, um Príncipe da Paz que é Jesus Cristo. É um fruto a conquistar com a parte que nos toca através da referida conversão do coração e o desenvolvimento de uma cultura da solidariedade e da misericórdia. Implica cada, em pessoa, as comunidades cristãs e os governantes das nações, através de ações concretas que, à imitação dos pastores que se apressaram a ir ao presépio, demoram pouco entre o ver, o contar e o agir. Maria também nos ensina com o ser discípula, guardando todas as coisas sobre Jesus no seu coração, para que este esteja sempre preparado para o impulso da fraterna solidariedade.
Que Santa Maria, a Mãe da Misericórdia de Deus e Mãe solícita para com todos os seus filhos, que tem um coração do qual transborda a Paz que é Jesus Cristo, nos ajude a ver a indiferença que habita no coração de cada um de nós e nos dê força para viver comprometidos na compaixão solidária. A plenitude que Jesus nos veio trazer é esta: que todos possamos chamar a Deus como Pai e, vivendo com o Espírito de Jesus que Ele nos envia, possamos viver como Seus filhos, imitando a sua misericórdia para com todos.
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