Em Maria, acolhamos a Arca da Nova Aliança

[Leitura] 1 Sam 1, 24-28; Lc 1, 46-56

[Meditação] No Ocidente, o relógio comercial impõe-nos um ritmo frenético à vivência desta quadra natalícia, observando as ruas mais próximas aos centros comerciais e ainda mais para quem entrar num deles. Celebramos muito episodicamente e, por vezes, numa sucessão de curtos episódios, os aspetos mais importante da vida e da fé. Como superação disso, inspirados nas novas séries da TV, podemos juntar os episódios em temporadas, tendo estas como auxílio para ter uma visão unificadora da história pessoal e comunitária.

Maria viveu o primeiro Natal de forma diferente: permaneceu três meses na casa de Isabel e só depois é que regressou a sua casa. O evangelista Lucas ajuda-nos a ligar esta “gestão espiritual” do tempo de Maria com o da trasladação da Arca da (antiga) Aliança de Judá para Jerusalém, pelo rei David. Nesta trasladação, o rei aspira à unificação e fortificação da cidade. Com a viagem e permanência de Maria em casa de Isabel, a que podemos aspirar nós?

O trecho evangélico de hoje, inspira-nos a meditar no cântico do Magnificat como o “invólucro” histórico festivo que dá significado ao Nascimento que está para acontecer, o que nos sugere, a par da história do pequenino Samuel, levar a sério uma vivência do Natal como espaço a habitar num estilo contracorrente com o que a sociedade consumista nos tenta impor. Mais conforme o estilo de Maria é, por exemplo, aproveitar esta quadra em família para se dialogar sobre a vocação dos filhos, para se fundamentar o projeto de vida pessoal, para ir ao encontro dos que precisam sem a ansiedade de fugir depressa. Sem imitarmos Maria, os cristãos correm o risco de dar uma esmola como quem pendura uma bola de cristal na árvore de Natal que, uma vez retirada logo a seguir, não deixa de ser um episódio isolado que nos faz perder a noção do todo no que toca ao projeto que Deus tem para nos salvar.

Este tempo é uma oportunidade sem igual (como todos os tempo fortes da Liturgia) para parar diante dos mistérios que se apresentam à volta do Nascimento do Deus Menino. A “Arca” que transporta este Mistério merece ficar parada para que possamos tirar partido do acontecimento. O Natal é incomparável à movimentação de andores festivos e para que o coração de cada um deixe que o Mistério passe deixando marcas, é preciso estar numa permanência suficiente. O padre Anselm Grün diz-nos que para C. G. Jung, o ano litúrgico é um sistema terapêutico. Nas diversas festividades, celebram-se os temas mais importantes da individuação humana. À medida que os celebramos, entramos cada vez mais em contacto com o nosso verdadeiro ser. Nas etapas que Jesus percorreu, celebramos o caminho da nossa própria hominização. No Advento podemos entrar em contacto com o mundo em que Deus reina, sem estarmos obcecados pelo poder, tempo de transformar nossas obcessões e anseios para, sem estarmos determinados pelo passado, celebrarmos um novo começo com o Natal (cf. Administração Espiritual do Tempo, Vozes Petrópolis 2010, 137-138).

[Oração] Em: Novena de Natal 2015

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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