A metamorfose da vontade, da força do “não” à convicção do “sim”

[Leitura] Sof 3, 1-2. 9-13; Mt 21, 28-32

[Meditação] Se calhar, para os que lideram dinâmicas e processos na Igreja e no mundo, nunca pareceu tão real como hoje a história dos dois filhos que o Evangelho nos relata. As vontades humanas nunca pareceram tão voláteis, diante de certas necessidades tidas outrora como comuns e urgentes. A subjetividade parece ter tomado o lugar do bom senso no que toca aos valores universais, transformando o senso comum num individualismo generalizado. Zygmunt Bauman teria classificado esta vontade como “líquida”. Talvez esta nova forma de as vontades se exercerem também seja um fruto do desenvolvimento tecnológico.

Jesus continua a interrogar os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo. Desta vez, entrevista-os sobre o que pensam da aparência de quem parece negar o bem na prática e dos que se dizem defensores do mesmo somente pela teoria. Jesus está a confrontá-los com os marginais da sociedade do seu tempo, os publicanos e as prostitutas, sugerindo-os como aqueles que se prontificariam a ser melhores se fossem mais sabedores das teorias que aqueles transportam nos livros. Esta crítica é, hoje, dirigida a todos aqueles que “praticam” dentro das igrejas em relação àqueles que parecem “não praticar” fora. Esta relação pode transformar-se no “vice-versa”, uma vez que os que estão fora, por vezes, praticam mais “na prática” do que os que estão dentro “na teoria”.

Poderíamos dizer, em relação à vontade salvífica de Deus, que se os “nãos” ditos pelos homens − que têm uma força defensiva tremenda − fossem iluminados com a inteligência dos “sins” − portadores de uma objetividade grande − o resultado seria a “pessoa pobre e humilde” de quem fala o profeta Sofonias, portador de “lábios puros” e de “coração unânime”. Por vezes dizemos “não” só pelo facto de não sabermos diante de quem estamos; e, igualmente, dizemos “sim” por estarmos virados para o lado errado. Jesus aconselhou os seus discípulos sobre a virtude do espírito bom que diz “sim, sim; não, não, linguagem própria de quem sabe para onde vai, com quem quer ir, através de um fazer determinado, como João Batista.

Podemos dizer que o Advento é um tempo favorável para a “metamorfose da vontade”. Na verdade, somos como as borboletas que, fechadas ainda no casulo, esperam a libertação. Alguns “sins” prendem e alguns “nãos” libertam e vice-versa. Depende do horizonte para o qual decidimos orientar a nossa vida.

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