A importância da minoria é invisível aos olhos da razão de muitos
[Leitura] Jer 31, 7-9; Hebr 5, 1-6; Mc 10, 46-52
[Meditação] Quem já teve a oportunidade de ver o painel de mosaico dourado que está na Basílica da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima, reparou, certamente, que à frente daquelas duas multidões que ladeiam a figura de Cristo, o Cordeiro Imolado, estão os mais pequeninos: os pastorinhos, de um lado, e o humilde João Batista, do outro. É um belo retrato do que nos apresenta, hoje, o profeta Jeremias. Eles trazem, como o “resto de Israel” libertado do cativeiro da Babilónia, os sinais da fé, da esperança e da caridade com que Deus acompanha sempre o seu povo pelos caminhos da história. Por vezes, na visualização deste painel como em tantos outros “painéis” da comunicação hodierna, os olhos da nossa razão não se baixam ao que é pequeno e ao que é “arranhado” pelas durezas da vida: os cegos e os coxos de hoje, como o são os desempregados, os refugiados, os que vivem a guerra, os explorados da sociedade, entre os quais também estão as crianças. Se não vejamos: quando nos comunicam que é preciso acolher os refugiados, começamos logo a conjeturar ideias provocados pelo medo de ser invadidos, vomitando argumentos que não são mais que uma defesa pessoal. A existência dos “pequeninos” grita, como gritava a voz que brada no deserto, a voz de João Batista e o testemunho dos pastorinhos de Fátima. O que conta é que Jesus ouve este grito, e manda chamá-los. E só à voz deste chamamento é que a multidão abre uma exceção para que o cego Bartimeu possa tirar a capa que o esconde e possa encontrar-se com Aquele que encurta a distância entre Deus e os homens. Como, deveras, os pequeninos são a “chave” para nos perfilarmos para o verdadeiro encontro com este Sumo Sacerdote de que nos fala a 2ª leitura. Também Ele foi provado, porque assumiu toda a nossa existência, incluindo o exílio da solidão por não ter sido reconhecido por todos. Por isso, Ele compreende a todos e a cada um de nós em particular, estejamos escondidos ou protegidos por que “capas” forem. De dentro desses exílios, não deixemos de gritar bem alto, por entre os diversos ruídos das multidões, invocando a piedade de Deus, que não é mais do que o seu amor infinito pela humanidade. Neste encontro de um Deus que responde aos gritos dos exilados, a multidão beneficia, pois a boa notícia é para todos: a libertação para uns corresponde ao acolhimento por outros, neste mundo feito de monopólios e exclusões de todo o tipo. Que a liturgia de hoje continue a ser para nós um incentivo a rezarmos e olharmos pelos missionários que vão ao encontros dos “restos” ou minorias (que não são poucas) de quantos vivem excluídos do caminho da felicidade, vivendo encobertos pelas “capas” do escondimento para o não incómodo dos que procuram o protagonismo e o poder de forma desleal.
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo