Maria subiu para Deus para estar mais perto e cuidar de nós
[Leitura] Ap 11, 19a; 12, 1-6a. 10ab; 1 Cor 15, 20-27; Lc 1, 39-56
[Meditação] Celebramos, hoje, a Assunção da Virgem Santa Maria ou, como se diz no oriente cristão, a Dormição de Nossa Senhora. A definição do dogma da Assunção de Maria ao Céu em Corpo e Alma, pelo Papa Pio XII, em 1950, lembra-nos que «do mesmo modo [que os cristãos], não tiveram dificuldade em admitir que, à semelhança do seu unigénito Filho, também a excelsa Mãe de Deus morreu. Mas essa persuasão não os impediu de crer expressa e firmemente que o seu sagrado corpo não sofreu a corrupção do sepulcro, nem foi reduzido à podridão e cinzas aquele tabernáculo do Verbo divino» (Munificentissimus Deus, 14).
Portanto, Maria foi «elevada em corpo e alma à glória celeste pelo Senhor e exaltada qual Rainha do universo, para que mais plenamente estivesse conforme ao seu Filho» (Lumen Gentium, 50). A solenidade da Assunção tem uma forte relação de sentido com a solenidade da Imaculada Conceição (8 de dezembro): se a Imaculada Conceição é a imagem dos homens purificados nas águas do batismais, a Assunção de Maria é a esperança para a humanidade que, aspirando «sempre às coisas do alto», é digna de merecer e participar da glória de Cristo Ressuscitado.
Maria é a esperança do povo que se interroga sobre quem é o homem e o que há de ser dele. Segundo o Jornal “Expresso”, que definiu o dia de ontem como o “dia da sobrecarga da terra”, começámos a viver acima das nossas possibilidades, alertando para o aumento constante e “insustentável” do ritmo do consumo de recursos naturais pela humanidade. Quando li este anúncio, já tinha terminado de ler a Encíclica “Laudato Si’” do Papa Francisco, sobre o cuidado da casa comum (que é o mundo e a atenção para com os mais pobres). Partilhei no Facebook este anúncio do Expresso com a expressão: O Papa Francisco está carregado de razão em Laudato Si’!
Na verdade, o Santo Padre está preocupado com o que este porção de humanidade que hoje habita do planeta terra irá deixar às futuras gerações. Por isso, propõe-nos uma “ecologia integral” que vai desde o apontar de soluções políticas e económicas, para além de técnicas sustentáveis, até a uma educação e espiritualidade ecológicas.
E é no último capítulo desta Carta, em que ele propõe essa “educação e espiritualidade ecológicas”, que o Papa nos apresenta Maria como “A Rainha de toda a criação”. Passo a citar o n.º 241 (faço esta leitura para vos favorecer este contacto com a Carta tão bela e tão necessária para a reflexão dos cristãos diante dos graves desafios da atualidade):
Maria, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido. Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, assim também agora Se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pelo poder humano. Ela vive, com Jesus, completamente transfigurada, e todas as criaturas cantam a sua beleza. É a Mulher «vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça» (Ap12, 1). Elevada ao céu, é Mãe e Rainha de toda a criação. No seu corpo glorificado, juntamente com Cristo ressuscitado, parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza. Maria não só conserva no seu coração toda a vida de Jesus, que «guardava» cuidadosamente (cf.Lc2, 51), mas agora compreende também o sentido de todas as coisas. Por isso, podemos pedir-Lhe que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar mais sapiente.
Então, qual é o destino de todos nós? É o mesmo de Maria assumpta aos céus em corpo e alma. Conforme a Arca da Aliança, transportada pelo povo do Antigo Testamento, indicava a morada de Deus entre os homens, Maria é a “arca da nova aliança” por acolher o corpo de Jesus no seu seio imaculado. Ela é, assim, modelo e imagem da Igreja que também nos transporta a nós no seu seio para o Reino Eterno de Deus, que Jesus entregará ao Pai. Ele é a primícia e, depois d’Ele, todos habitaremos em Deus eternamente.
Vivamos, pois, de modo simples e alegre, cuidando uns dos outros e da natureza que Deus nos deu para habitarmos. O Evangelho mostra-nos Maria a caminho para ir cuidar de Isabel. Com Ela, caminhamos nós e toda a natureza que Deus criou, para um dia nos virmos todos restaurados na nova e eterna morada de Deus.
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo