De uma religião “catedral” a uma eclesiologia de “bazar”
[Leitura] Amós 7, 12-15; Ef 1, 3-14; Mc 6, 7-13; MASSIMO NARDELLO, La cattedrale e il bazar; modelli di partecipazione nel mondo informatico e nella missione ecclesiale (Tredimensioni 2, 2012)
[Meditação] No domingo passado (XIV), contemplávamos a face não muito positiva do ser profetas, com a ajuda de Ezequiel e as suas adversidades externas (corria o risco de ninguém o escutar), as dificuldades internas de Paulo com o seu “espinho na carne”, e as adversidades de Jesus que não foi bem aceite na sua própria terra, sentindo-Se impelido a ir aos arredores. Hoje, apesar de a primeira leitura ainda nos mostrar o confronto do profeta Amós com o rei Amasias, as leituras da Palavra de Deus ajudam-nos a fazer a passagem para a contemplação da face positiva da missão do profeta. Mas não basta ter uma visão positiva ou conhecê-la somente. É preciso que se ative nos crentes um novo modelo do ser profetas hoje, apoiados numa eclesiologia renovadamente fiel ao Evangelho e às circunstâncias do tempo presente, em vez de modelos impostos pelas estruturas (terrenas) do passado. Pensemos em modelos e em elementos. Os modelos em confronto nas leituras de hoje seriam os seguintes, um pouco à maneira do que acontece no mundo informático:
1. A “catedral”. É o modelo tradicional. Advoga a rigidez do templo e é governado segundo uma liderança fechada, à maneira, por exemplo, daquela em que foi construído o espólio informático da Apple: trabalha-se num esplêndido isolamento, porque o código-fonte é pago; por isso, não deve ser conhecido por muita gente; não se transmite conhecimento para se poder vender mais produtos. É de qualidade, mas sem uma grande interação entre os indivíduos. A liderança é forte e diretiva, mas hierarquicamente irredutível, não facilitando a correção assimétrica (mesmo que fraterna) que permite sondar novos horizontes que fé que o Evangelho esconde, não só quanto aos conteúdos, mas também quanto à forma de os viver.
2. O “basar”. Estão aí proliferando as já sobejamente conhecidas e frequentadas (se for o caso, não tenha vergonha de o dizer!) “lojas dos chineses”. Mas mesmo estas não servem muito de comparação ao modelo de organização e liderança que preside à livre e gratuita interação de opiniões e funcionalidades presente, por exemplo, em toda a comunidade Google e Android (apesar dos “hardwares” desta gama não serem propriamente gratuitos). Este modelo é mais caracterizado pela cooperação aberta, onde o líder sabe impor-se para evitar conflitos e dinâmicas destrutivas ou estéreis. A dimensão essencial deste modelo é o de participação, ao serviço da qual está o líder.
Quanto aos elementos que vemos presentes nas leituras deste XV domingo e que ajudam a caraterizar positiva e aproximadamente os profetas à luz do modelo “basar”, poderíamos definir os seguintes: 1.º Ser profeta é ser corajoso e dinâmico; 2.º Ser profeta é ser sábio e inteligente; 3.º Ser profeta é ser cooperativo e simples. Quanta eficiência apostólica não haveria mais se acolhêssemos a “fundamental igualdade de todos os membros do povo de Deus”, interagindo através da participação na única missão eclesial, porém, segundo modalidades diferentes?
Não sugiro, aqui, uma eclesiologia que deixe de estimar as catedrais, até porque costumam ser “igrejas-mãe”. Sugiro, sim, que os crentes que as habitam saibam imitar os modelos contidos na Palavra de Deus para uma nova era profética da Igreja, restaurando aqueles elementos ali apontados e que se ofuscaram pela influência dos “amasias” de todos os tempos. Se assim for, qualquer catedral não parecerá mal se for um “basar” bem frequentado, em vez de um “templo” vazio. É que há modelos de “esperemos que venham” e modelos de “ir ao encontro para levar o que é para todos”. É o próprio Evangelho de Jesus Cristo que denuncia a urgência do dinamismo de saída eficiente que o Papa Francisco tanto proclama!
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo