Permanecer no amor de Deus para ser “cidadão” da Humanidade

[Leitura] Act 10, 25-26. 34-35. 44-48; 1 Jo 4, 7-10; Jo 15, 9-17

[Meditação] É um pouco redutor na perceção da própria identidade quando nos contemplamos como meros habitantes de uma paróquia, freguesia, cidade, concelho ou, até, país. O mesmo podemos pensar do reducionismo que é alguém fazer-se apresentar como “habitando” num estrato social, como este ou aquele título, com estas ou aquelas posses materiais. Cornélio quis prostrar-se diante de Pedro e o que é que este faz? Responde como quem quer ser habitante de uma humanidade “sem aceção de pessoas”, apresentando-se como um simples homem. Sim, para se ser “cidadão” da Humanidade basta apresentar-se com estas credenciais: simplicidade que reclame a igual dignidade e um amor a Deus que se concretize na justiça em favor dos outros.Na verdade, ninguém amou primeiro que Deus. Portanto, a patente deste amor não é humana, para alguém, cá em baixo, de advogar “dono” seja de que título ou que matéria for. A consistência do amor, fundou-a Deus com a dádiva do Seu Filho Unigénito. Curiosamente, prova-o o “Crisma” antes do Batismo que aconteceu segundo o relato de Pedro aos convertidos do judaísmo, diante dos gentios. Estes também receberam o mesmo Espírito (= Amor de Deus), acolhendo, posteriormente, o Batismo que os fez entrar na comunidade dos crentes. Porque será que na comunidade encaixotamos tanto a vida cristã? Muitas vezes, nos acontecimentos que somos chamados a gerir, vem Deus e altera-nos a ordem: na gestação de uma vida nova antes de um matrimónio, numa descoberta da fé pessoal fora do percurso catequético organizado das paróquias, de uma paragem obrigatória pela doença física ou psíquica (em que a fé é posta à prova), de uma desconstrução de “edifícios” que afinal tiveram “andaimes” humildes. Para quê mentir? É uma honra pertencer à humanidade simples, como Deus a criou!!

E se Jesus escolhe alguém para o seguir mais de perto, não é para ser “especial de corrida”. Há, porventura, por aí muitos clérigos ou, até, consagrados que puseram a fasquia da sua identidade (muitas vezes mal “travestida”!) num patamar “top” evangelicamente errado: ser servido antes que servir, que em palavras de sentido pedagógico significa: existir como fim, antes que meio ou instrumento. Em que país habitam? O sacerdote ou qualquer ministro consagrado está na ordem dos meios e não na ordem dos fins, a não ser que tenha escolhido alguma forma de “clausura”, essa sim, preanunciadora de um estilo de vida que antecipa o céu.

Habitemos a humanidade inteira e amêmo-la no fragmento em que vivemos.

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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