Valores: mediações de Cristo ou de um ídolo?
Há um mundo real, que existe, e um mundo ideal que não. Vivemos entre um mundo real, cheio de alegrias e tristezas, sucessos e angústias e um mundo ideal proposto pelas empresas de publicidade (quase sempre enganosa). Seguir este embuste de “mundo ideal” é, frequentemente, incorrer no risco de uma cisão com o mundo real, muitas vezes pecaminoso, mas única estrada para se chegar à felicidade. Esta é feita de valores adquiridos, não só por transmissão, mas também por construção suada. Se entendemos os valores como descrição de um mundo que não existe, ainda que o desejemos, chagaremos à conclusão que Cristo também não é um valor. A. MANENTI («Il mondo che non c’è», in: Tredimensioni 1/2015) garante-nos que é legítimo perguntarmo-nos se valores assim serão mediações de um ídolo, mais do que mediações do divino, enquanto têm o efeito de condenar a vida presente e de a tornar escrava das suas ambições.«O Filho de Deus partilhou da nossa condição humana em todos os seus aspetos, menos no pecado, do qual, porém, sentiu o peso em nosso favor. Quando apresentamos um Deus que não nos ajuda a encontrar a sua presença na condição humana, mas se propõe como alternativa a essa, estamos perante um ídolo. O nosso falar d’Ele pode, de tal maneira, enrijecer sobre esquemas alternativos e de oposição, impedindo de reconhecê-Lo presente na pobre história dos humanos, a única “estrada” para eles disponível.
Paulo partilhou, sem vergonha, a sua convicção: «Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso» (2 Cor 3, 7); «Assim, o que realizo, não o entendo; pois não é o que quero que pratico, mas o que eu odeio é que faço. Ora, se o que eu não quero é que faço, estou de acordo com a lei, reconheço que ela é boa» (Rm 7, 15-16). Diante de um testemunho tão realista, para quê impor aos olhos dos outros um verniz de valores aparentes (vividos por aqueles que se autodefinem como tendo uma “vida completa” ou ser “pessoas completas”) se o que interessa é uma felicidade real, assente em valores realmente assumidos e partilhados referencialmente, e não uma felicidade falsa assente em idealismos. O Papa Francisco fala-nos da proposta de uma santidade de “classe média”, ou seja, daquela que é acessível de ser vivida e não de valores inacessíveis que, ninguém, a não ser só na aparência, os consegue viver no quotidiano. Converter-se a partir dos valores que são mediações de Jesus Cristo não significa fazer uma cisão com o mundo, mas um modo correto de habitar no mundo real, que existe como estrada de salvação, encontrando-O através da imprescindível mediação de acontecimentos e pessoas concretas. Ele fez-Se presente na nossa história de pecadores, pois, quando éramos pecadores, Ele morreu por nós (cf. Rm 5, 8). Os valores exprimem a graça de Cristo através de uma pluralidade de palavras, suscetíveis de nos inspirar e atrair a nossa vida para o bem.