De servos na “ignorância” a amigos no amor

[Leitura] Act 15, 22-31; Jo 15, 12-17

[Meditação] Por estes dias, na Liturgia, assistimos ao desenrolar de um acontecimento que marcou para sempre a Igreja na sua capacidade de dupla fidelidade ao seu Fundador e à Humanidade que é chamada a servir. Trata-se do Concílio de Jerusalém, realizado entre os Apóstolos de Jerusalém e os provenientes de Antioquia. Juntos, recordaram que a finalidade da Igreja assente na Fé de Pedro era a expansão do Evangelho aos gentios, que o Espírito Santo não se aprisiona seja em que instituição humana for, que Deus não faz aceção de pessoas, revalorizando a fé como fonte de purificação dos corações e, por fim, o mais importante: a graça de Deus acima das normas humanas. O silêncio diante destas convicções declaradas por Pedro ainda hoje é necessário no pós Vaticano II, para a contínua renovação da Igreja e da sua missão no mundo!O conselho ditado para instaurar o acolhimento dos gentios na comunidade dos crentes − «que se abstenham de tudo o que foi contaminado pela idolatria, das relações imorais, das carnes sufocadas e do sangue» − continua atual nas palavras do Papa Francisco: fugir da mundanismo espiritual. Assim, imitou a pedagogia de Jesus que não veio para abolir a Lei, mas para completá-la (cf. Mt 5, 17). Se Jesus nos pedisse que fossemos meros cumpridores da Lei, ter-nos-ia deixado escravos e não seus seguidores; entre nós e Ele teria ficado edificada uma barreira. Não foi assim: deu-nos a possibilidade de ser seus irmãos e filhos do mesmo Pai! E quis chamar-nos amigos. Sim, Ele percebeu o que significava a amizade e valorizou-a com a máxima que é  do amor de quem dá a vida pelos seus amigos.

O que se vê, antes de mais, na declaração de Pedro é a amizade que ele sente em relação a Jesus, partilhando-a, sem invejas e calculismos, com os que Jesus também quer acolher no seu seguimento. Já lá vai o tempo, felizmente, em que se fechou o conhecimento das coisas da Escritura à humanidade, incapaz de a ler para a levar à prática. Com a falta de tradução das Escrituras na própria língua, também não se terá fechado a possibilidade de se ser amigo de Jesus. Talvez tenha sido um retrocesso à supremacia da Lei, patenteada pela instituição humana, em desfavor da transparência no que toca a revelar o rosto límpido de Jesus Cristo Ressuscitado.

Na sua missão, a Igreja não quer que permaneçamos ignorantes. Daí a proporcionar tantos momentos e formas de aprofundamento da fé (desde a Catequese a formas diversas de leitura orante da Bíblia, para além do ensino EMRC e das Ciências Religiosas e da Teologia). Haja quem queira entrar neste círculo de amigos que não prescinde do estudo para se ter um coração mais capaz de acolher o Amor que reflete a escolha a participar na mesma missão eclesial. Não se trata de todos terem a mesma inteligência acerca dos mistérios da fé, mas de corações mais harmonizados com a Fonte do verdadeiro amor, que até uma pessoa simples pode intuir. Pelo amor partilhado, Deus pode levar-nos a revelar tudo.

ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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