A verdadeira Catequese traz-se da Festa e reenvia para ela
[Leitura] Act 8, 26-40; Jo 6, 44-51
[Meditação] Muitos de nós, agentes pastorais, temos vindo a perguntar-nos porque é que a Catequese não está, quanto gostaríamos, a fazer discípulos missionários. E, num primeiro momento, temos a impressão de verificar que os desertores (a maioria a partir do Crisma) “não estão nem aí”, como dizem os brasileiros. O que estará a passar? Não será que há qualquer coisa a mudar no “modus faciendi” da evangelização? Entre estudos e projetos, na maioria transpostos em livro (incluindo os ultimamente “engordados” catecismos), pouco do que se pensa ser ótimo na teoria chega a ser bom na prática. Parafraseando o lema do Ano da Vida Consagrada, como “sondar o horizonte” da missão profética da Igreja? A liturgia de hoje faz-nos uma proposta de método que, se for bem analisada e levada à prática, certamente nos irá pôr a mexer, incluindo as estruturas e projetos. Vejamos:Em vez de nos estarmos a lamentar da nossa “carroça” estar vazia, sempre podemos optar por fazer como Filipe: deixarmo-nos impelir pelo Espírito e não por livros. O livro, esse estava no carro do etíope (certamente adquiriu-o no templo, onde foi adorar a Deus). Filipe levava o Espírito e o eunuco tinha o livro. Este tinha o texto e o Apóstolo tinha na sua posse a compreensão do mesmo, o seu significado ou sentido, pujante de consequências para quem o recebesse.
Parece-me também que a Igreja, nos últimos anos, ao nível da atividade catequética, pareceu-se mais como uma escola do que com uma família ou comunidade. Compaginando o calendário da escola com o da catequese, não se está a dar conta que não percebe a vida dos destinatários, mas só fragmentos dela (para os mais catequistas mais fervorosos, uma ligação à família e ao seu quotidiano; para os mais cansados, a hora e o catecismo). Não será que nos esquecemos de ligar a Catequese com as “imediações” do templo, as festas litúrgicas (o Ano Litúrgico, o Mistério Pascal), onde se faz a primeira experiência mais importante, que é a adoração, impelida pelo amar mais do que pelo saber? Em vez disso, encaixamos a Catequese no início e fim de três períodos, dos quais se tem pena de entrar (acabaram-se as férias) e alegria em sair (no início das férias). Compreendo a mais fácil organização e o aparente apoio às famílias no plano de organização do tempo. Contudo, desligámo-los do templo, com o acréscimo da competitividade lançada pelas propostas sociais da ocupação dos tempos livres.
Urge, como os primeiros anunciadores, recuperar algo do seu método, patente nos Actos dos Apóstolos, de ir ao encontro das pessoas no seu caminho. Muitas delas irão ao templo (ao Domingo) e é preciso ajudá-las a compreender o que de lá trouxeram; outros estão de regresso do tempo (da catequese da infância e da adolescência) ao encontro do seu “país” (o futuro incerto da sua profissão e vocação). Outros, ainda nem sequer adoram Deus, mesmo que desconhecido para eles, sendo necessário apresentá-lo com a própria vida.
Urge uma pastoral da cultura mais expressiva e assertiva, sem esquecermos que deve ser permanente, a remeter para as portas do sagrado onde se encontra a graça que salva. Para isso, é necessário fazermos como o que já se disse com a Eucaristia: mais Catequese e menos catequeses. Não é mero debate entre qualidade-quantidade. É a defesa de uma maior organização do tempo, apoiada por uma mais séria formação e vida espiritual de quem é agente.
Urge tentar outros modos… sem esquecer que quem nos leva a Ele, Jesus Cristo, é sempre o Pai, no Espírito.
ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo