Os respeitos humanos têm vergonha; o amor concreto faz-se presente e cativa

[Leitura] Act 4, 32-35; 1 Jo 5, 1-6; Jo 20, 19-31

[Meditação] Muito daquilo a que atribuímos o título de amor cristão, na prática, é frequentemente sintetizado em meros respeitos humanos. Hoje, no Evangelho, vemos Jesus a derrubar os respeitos humanos que Tomé tinha a seu respeito, pois o dizer “se não vir nas suas mãos o sinal…” parece querer dizer “se não for Ele próprio a mostrar-me ou a convencer-me…”. Com ele, parecem-se muitos dos nossos cristãos que, também por respeitos humanos, não vão à comunidade ou esta, também por… (adivinhem!) não vai ao encontro desses irmãos afastados. Parece que todos queremos “sinais especiais”! Os respeitos humanos, por serem habitualmente um esforço de “etiqueta” por parte de quem os tem, costumam fazer-se caros, pois na devida altura, fazem-se pagar. O amor concreto é o que se faz presente para tocar nas feridas, sejam elas do foro físico, psicológico ou moral-espiritual, sempre disponível e com simplicidade.

Amar de forma concreta significa meter as mãos nas dores do outro, diariamente. Significa ocuparmo-nos mais do que nos pre-ocupamos. A preocupação é uma distância que nem sempre é organizativa para um bom encontro com os outros. A preocupação é, frequentemente, mais escudo de defesa pessoal do que sincera vontade de ver e atender o (problema do) outro. Com um simples toque, o medo de quem sofre (e, por isso, vive afastado) pode transformar-se em alegria, aquela que é possível com a paz que Jesus nos transmite. O Evangelho apresenta-nos, numa primeira parte, uma comunidade que crê em Jesus Ressuscitado, mas tímida. Precisa de irmãos como Tomé e do Espírito Santo. Jesus “acomoda-se” a cada um para Se fazer perceber como o Ressuscitado, mas não é para que nos acomodemos!! Sopra sobre nós com o Seu Espírito para nos impelir a ser uma Igreja em saída, como, hoje, insiste o Papa Francisco.

Ainda bem que a preocupação de Tomé durou pouco tempo (porventura, oito dias), passando à ação de tocar no lado do Senhor. “Não sejas incrédulo, mas crente”, disse-lhe o Ressuscitado. A incredulidade está aí muito presente no mundo, defendida por respeitos humanos e preocupações que não vão levar a calvário nenhum, nem, por isso mesmo, a alguma participação na experiência de tocar o Ressuscitado. Ele escolhe a forma em que Se quer manifestar, com as suas chagas ou sem elas, para, umas vezes, ser Ele a tocar-nos, e, outras vezes, a ser tocado. Ver Jesus, é um direito de qualquer homem ou mulher à face da terra, sobretudo se estiver presente às portas da comunidade, pois esta é chamada a transmitir Jesus ressuscitado. O encontro com Tomé mostra-nos que Jesus não ignora presenças novas, antes as integra no Seu projeto, pela forma que considerar mais pedagógica. O que é que fazemos com o acolhimento dos que estão pela primeira vez ou com aqueles que só vêm poucas vezes? E como fazer para irmos fora, ao encontro dos que não vêm? O Papa Francisco chama-nos a ser “Igreja em saída”… Quem dera que muitos dos que estão afastados pudessem dizer a Jesus “meu Senhor e meu Deus!”, em vez que o dizer a outros… À luz da primeira leitura, que nos mostra o exemplo de uma comunidade ideal, podemos dizer que enquanto houver irmãos ausentes, há feridas por tocar ou por se deixarem tocar por algum remédio ou solução. Cada um tem a sua necessidade e a sua forma de desejar ou sentir a felicidade. Há uma significativa parte desta felicidade que só o Ressuscitado pode dar. Cabe-nos a nós, cristãos com rosto de “gente salva”, transmitir convictamente a sua presença no meio de nós. Neste sentido, cada comunidade pascal é chamada a deixar-se tocar pelo que tem de melhor, para que todos, hoje, possam acreditar sem terem visto… como Tomé.

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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