Ser Pai e ser Filho: um trabalho incessante que recria a vida
[Leitura] Is 49, 8-15; Jo 5, 17-30
[Meditação] Não foi fácil para Jesus desviar-se dos ataques dos judeus por causa da violação do Sábado e da Sua relação filial com Deus Pai. Causou-lhes escândalo. Hoje, proliferam, sobretudo na Internet, artigos de opinião sobre as questões da família e da adoção. Não querendo entrar pelo aprofundamento destas, somente faço reclame à ligação entre a leitura dessas temáticas e o Evangelho de hoje, porque aquelas questões não podem ser avaliadas somente diante de argumentos tradicionais (assentes em alicerces meramente humanos), mas preferencialmente a partir da análise o mais abrangente possível (os vários métidos e críticas da metodologia dos Estudos Bíblicos) da leitura dos textos evangélicos sobre os mesmos.
Já todos demos conta, não só pela ciência da Psicologia que tem mais ou menos 50 anos, mas pelos acontecimentos e ambiente social em que vivemos, que a 2ª Guerra Mundial deficitou a relação pai-filho, por vários motivos: pais ausentespara trabalhar fora ou para a guerra (alguns nunca regressaram) e mães super-presentes, por vezes, também, a fazer de pais. Há, inclusivamente, quem tenha apontado benéfico o divórcio, em certa medida (eu não concordo com nenhuma medida, embora também não condene as pessoas, nem suas decisões situacionais), vieram a colmatar aquela falta da ausência dos pais, uma vez que estes passaram a ser “obrigados” ou a “impor-se” a eles próprios o encargo dos filhos, ao menos de 15 em 15 dias, competindo, até, no esmero com o cuidado afetivo dos mesmos. Isto quer dizer que a Grande Guerra foi um mal pior que o Divórcio. Será este um “bem possível”? (Fica para os moralistas opinarem!)
A relação de Jesus com o Pai, escandalosa para os judeus, deverá ser bem acolhida pelos cristãos e os homens de boa vontade que amam os seus filhos, querendo que estes também os amem através do bom prosseguimento de suas vidas. Esta relação paterna e filial, que não é meramente adotiva, mas é com certeza fora da lógica humana (que o digam os “judeus”!), transporta o cumprimento da promessa da profecia do Antigo Testamento: «Hão-de alimentar-se em todos os caminhos e acharão pastagem em todas as encostas (…). Aquele que tem compaixão os guiará e os conduzirá às nascentes de água» e «Ainda que ela (a mãe) o esquecesse (o filho das suas entranhas), Eu nunca te esquecerei». Estas afirmações obrigam-nos a “sair ara fora” e a “ir para a luz”, de maneira a compreendermos que a relação paterno-filial que está diante de nós não é uma fantasia, mas é tão ou mais real (depende do olhar de fé) do que a relção materno-filial. Se a levarmos a sério (aquela relação) nas nossas vidas, escutando a Palavra recriadora que é o trabalho incessante dos dois, então iremos agradecer às nossas mães o facto de nos terem possibilitado contemplar o rosto materno de Deus e, ao mesmo tempo, ver resolvido historicamente o “trauma global” gerado ela II Grande Guerra. Fica aqui expressa uma homenagem vespertina ao meu pai e a todos os pais, numa relação sempre a reler ou a recriar desde a perspetiva evangélica.
ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo