Fontes e dimensões da espiritualidade sacerdotal: do monte do dom ao vale da existência

A vida e o ministério dos presbíteros são preocupação da Igreja, sobretudo desde o Concílio Vaticano II. Da Presbyterorum Ordinis (PO, 1965) à Pastores Dabo Vobis (PDV, 1992), a Igreja manifesta uma grande preocupação no testemunho, no acolhimento, no discernimento desta vocação específica, na formação e no acompanhamento dos presbíteros, chamada que está a formar padres para o hoje de cada etapa da sua história. O Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, que teve a sua primeira publicação com o Papa João Paulo II, logo após a exortação pós-sinodal PDV (1994), e uma atualização em 2013, com o Papa Bento XVI, sintetiza bem o que é preciso fomentar para que esta atualização seja aturada e atempada.

Por vezes, quando se fala de espiritualidade sacerdotal, fica-se no mero elencar dos “meios para a santificação dos sacerdotes”, elencados no Código de Direito Canónico (cf. cân. 276). Está bem lembrar e insistir nestes meios que também vêm enumaredos naqueles documentos do Magistério como importantes para se alimantar a espiritualidade do presbítero. Porém, pode não ser só o mero incumprimento desses meios (numa espécie de “checklist” não totalizada) a causa do insucesso espiritual do padre, a danificar, inclusivamente, o exercício do seu ministério. Proponho uma reflexão mais ampla, lendo os documentos acima em paralelo e deixando-nos iluminar pela reflexão teológica e pela observação da vida concreta dos padres, hoje em tão pouco número e sujeitos a um carrego tão pesado de tradições a cumprir, para apontar caminhos que ajudem os prespíteros a redescobrir a finalidade para a qual Jesus Cristo os “fundou”.

FONTES DA ESPIRITUALIDADE SACERDOTAL

1ª FONTE: O SACRAMENTO DA ORDEM

Em primeiro lugar, proponho a leitura da oração de ordenação (clicar para aumentar):

Espiritualidade sacerdotal... apêndice_Page_17Desta oração, extraímos a razão de ser da primeira fonte: o padre vive sob o efeito de uma graça recebida, ligado a uma história salvífica onde é chamado a integrar todas as suas forças. É uma graça instituída, a que o presbítero recebe de Cristo, que a Ele configura os que quer para os fazer participantes na sua missão. Por vezes pensamos, mesquinhamente, que somos nós que nos configuramos a Cristo Sacerdote; na verdade, é Ele que configura àqueles que escolhe para, na Igreja, participarem no seu tríplice múnus. A esta fonte que é o Sacramento da Ordem, é preciso regressar amiúde, por ser a primeira fonte configuradora. A Oração de Ordenação é eloquente a este respeito, pelo “por quem”, “porquê”, “como” e “para quem”.

2ª FONTE: A INCARDINAÇÃO/PERTENÇA (INSTITUTO DE VIDA CONSAGRADA OU PRELATURA)

Se a primeira fonte é o princípio ou o ponto de partida, no monte, então a segunda fonte é, no vale da existência do presbítero, o âmbito onde, pela caridade pastoral em que participa, ele vê, também, alimentada a sua espiritualidade. Cristo rezou pela sua existência e a Igreja também; agora, ele é chamado a rezar e a atuar a graça proveniente de Jesus Cristo, em favor de todo o Povo.

As DIMENSÕES em que se vive a espiritualidade do sacerdócio permitem ao ministro ordenado estar em constante dinamismo de crescimento entre o ponto de partida − Identidade/Ordem − e o caminho em que a vive − na Formação/Contexto eclesial onde vive.

Com as fontes e as dimensões, será mais fácil para o presbítero, íntima e comunitariamente, entender a importância dos meios para unir identidade e missão.

Útil para ulteriores aprofundamentos, serve, como síntese, o quadro seguinte:

Espiritualidade sacerdotal... apêndice_Page_18

 

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