“Boa” agressividade precisa-se para os “vendilhões” de hoje

Como complemento à reflexão deste 3.º Domingo da Quaresma (B), será bom tirar partido da atitude de Jesus diante dos vendilhões do Templo, dando conta que das manifestações de uma certa “raiva” por parte de Jesus não podemos deduzir que padecesse de uma espécie de fúria agressiva incontrolada. No episódio que nos e relatado por S. João (Jo 2, 13-25), descobrimos que Ele trata com maior benevolência os vendedores de pombas (cf. v. 16), por se tratarem de animais usados para os sacrifícios dos pobres. Isto significa que Jesus orienta a sua agressividade, não a manifestando como explosão que deixe tudo em ruínas.

Que entendemos por agressividade? Frequentemente, identificamo-la como “raiva” atuada, mas esta não é senão uma das possíveis expressões da agressividade. Diversamente, do ponto de vista da psicologia evolutiva, a agressividade constitui uma necessidade fundamental da pessoa, mais estritamente unida à capacidade assertiva e reativa. Considerando que o desenvolvimento humano se realiza por estádios ou etapas e que entre cada uma destas etapas não existe uma continuidade perfeita, mes produzindo saltos, damos conta que a agressividade é a energia utilizada para ultrapassar o obstáculo. Crescer é uma aventura complicada, porque implica fazer uma espécie de subida (como a de Jesus para Jerusalém, para o Templo e o Calvário). Entrar num estádio de maior desenvolvimento traz muitos benefícios, mas também não poucos riscos. Neste sentido, sentimo-nos a crescer, mas também atraídos pela possibilidade de ficarmos onde estamos ou, inclusivamente, de retroceder. Para afrontarmos o risco do crescimento, renucniando à tantação tranquilizadora de nos instalarmos aonde chegámos, necessitamos de uma boa dose de energia, de desejo de “atacar”, de intervir ativamente nos acontecimentos. Parafgraseando o famoso dito − “a melhor defesa é um bom ataque” −, poderia afirmar-se que para “defender-se” do perigo de estagnação é necessário “atacar” a vida.

Hoje, precisa-se, pois, desta boa dose de agrassividade para ultrapassarmos todos os obstáculos que, na vida da fé, aparecem, alguns revestidos, até, de “panos santos”, e, outros, de piedade humanitária, quando não decalradamente contra qualquer caminho de fé, para obstaculizar o acesso ao verdadeiro “Templo” que é o Corpo de Cristo. Fui descortinando, aquando da leitura orante de Jo 2, 13-25, os três absolutismos que estão “em bandeira” em muitas atuações sociais (e, de vez em quando, eclesiais!), contra  a fé: o absolutismo das leis (fanatismo religioso), o absolutismo da matéria (capitalismo desumanizador) e o absolutismo da dúvida e do medo (omnipotência interior). Vivamos uma saudável agrassividade − manifestada por atos de misericórdia, serviço e humildade − e afastar-se-ão os fantasmas (interiores e exteriores, reais e fictícios, que imperam na nossa alma, na sociedade e na Igreja.

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