Transfigurar-se prestando atenção a um amor digno de obediência

Nebo-Tabor[Leitura] Gen 22, 1-2.9a.10-13.15-18; Rom 8, 31b-34; Mc 9, 2-10

[Meditação] Insisto na tautologia (“prestar atenção” = “obedecer”) na tentativa de extrair da cena da transfiguração o mais possível da sabedoria pedagógica de Jesus, em relação aos seus três discípulos, quanto ao horizonte da missão em que os quis envolver. Estamos no Ano da Vida Consagrada e, na verdade, preocupa-me a linguagem com que hoje falamos de consagração aos jovens, na base da definição dos conselhos evangélicos e o seu aproveitamento como proposta de vida (estamos a falar da castidade, da pobreza e da obediência). Quando falamos da vocação de consagração, os jovens sabem que lhes estamos a falar da entrega total da vida, no tempo e no espaço. O mesmo fez Jesus com os que tinha mais perto de si. E não lhes escondeu a radicalidade do evento pessoal da paixão que se estava a aproximar. Como é que Jesus fez com estes? Notemos a progressão em relação ao Antigo Testamento:

Andar do Monte Nebo (Primeira Leitura) ao Monte Tabor (Evangelho) é como andar do Mar Morto ao Lago de Tiberíades. É como andar de uma relação com Deus de tipo sacrificial a uma relação de estilo sacramental. Neste, é Jesus que dá a Sua vida; no anterior é, tradicionalmente, entendido ser preciso sacrificar algo para chamar a atenção de Deus todo-poderoso. No primeiro caso, temos uma relação com Deus que progride de um deus impessoal (que “pede” a oferta sacrificial do primogénito) para um Deus pessoal que interage com o primeiro verdadeiro crente, tomando a iniciativa de Se apresentar como Deus que dá a vida e a abençoa. No caso dos Apóstolos, Jesus apresenta-Se como definitivo mediador de uma aliança que já não precisará mais dos sacrifícios da antiga, mas de um único Sacrifício: o da Sua Paixão e Morte, de onde virá, unicamente, a glória da Ressurreição. Na verdade, Jesus completa a Lei e os Profetas.

Os Apóstolos, por sua vez, querem permanecer ali, mas a verdadeira “tenda” é uma nuvem que “proclama” a Palavra incarnada no Filho muito amado. “Prestar atenção” a este Filho é a palavra de ordem para uma obediência perfeita, isenta da necessidade de sacrificar pessoas, mas apta para dedicar motivações novas que, apesar da notícia da paixão, pressentem a novidade da glória que dela germinará. Não será que a pastoral das vocações será chamada a uma nova forma de apresentar a missão de Jesus, sem pedir sacrifícios que anulem relações pessoais, mas sejam canteiros de movivações a aflorar para a vivência de um amor que prometa a transformação da vida dos jovens? Costuma-se dizer, frequentemente e não sei com que objetividade, que os jovens de hoje carecem de espírito de sacrifício. Não será que sacrificámos o verdadeiro amor oblativo a “vales de sacrifício” ativista, em vez de o manifestar em “montes de alegria” transfiguradores?

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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