Caminhemos para o Reino que fica depois do deserto…

[Leitura] Gen 9, 8-15; 1 Pedro 3, 18-22; Mc 1, 12-15; Castelo Interior

[Meditação] O evangelista Marcos, neste 1º Domingo da Quaresma, apresenta-nos o deserto para onde o Espírito Santo impeliu Jesus, sem especificar os tipos de tentações com que Ele foi tentado, como fazem os outros evangelistas (cf. Mt 4; Lc 4). Sugiro que nos detenhamos, neste ano B do ciclo da Liturgia, não a considerar as causas e os conteúdo das tentações (a “boa consciência” de cada um, em formação contínua, dará conta de alguma coisa que não seja bom conselho), mas convido a considerar a finalidadade do deserto em que se é tentado: ser livre de amarras para partir ao anúncio e ao convite a entrar no Reino de Deus. Marcos simplifica a linguagem, talvez para nos permitir que deixemos, por um ano, a casuística e pensemos, positivamente, que, no deserto da vida,o Espírito de Deus está connosco para nos ajudar a fazer escolhas acertadas. Pelo menos é o que nos está prometido desde o Batismo, a partir do qual “a água têm o poder de santificar” e não de destuir (a dignidade de filhos).

Todos os dias, somos confrontados por situações que nos “obrigam” ou nos “pedem” uma escolha. Por vezes, a tentação é nem sequer escolher e protelar uma decisão, para não se correr nenhum risco (nem o mal, nem o bem!). De si, a inércia ou a acidia já é uma tentação… e das grandes! Importante é caminhar pelo deserto que leva ao Reino, ainda que, como diz o Papa Francisco, tenhamos “acidentes” de percurso; é preferível, a ficar parado e… doente pela secura, isolamento e perigos do deserto. A “porta” desse Reino é esta: a de uma liberdade “livre” dos “animais selvagens” (internos e externos) que nos dificultam a sua escolha. Para isso, Jesus dá-nos o exemplo, saindo como vencedor. E, como vencedor, também não quis ficar sozinho, mas desafia-nos a passar pela mesma prova. O perigo de “catalogarmos” as tentações pode ser o de pensarmos que todas as pessoas passam pelas mesmas da mesma forma.

Não deixa de ser útil, neste contexto, a imagem, inventada por Santa Teresa de Ávila, do castelo interior ou das manções que existem dentro do castelo interior que é o nosso coração. Nele também mora Cristo, lá muito escondido (na sétima morada). Antes da porta deste castelo (como em quase todos os castelos!), há um fosso onde todo o tipo de animais ferozes tentam impedir o acesso, não vá (pensa o inimigo) que aconteça entrares e conheceres-te melhor, o que é princípio da liberdade para a tua capacidade mais “livre” na escolha do bem que é encontrar o Mestre, segui-Lo e servi-Lo. Chegar à “sétima morada” pode coincidir com a passagem definitiva (como aconteceu com Edit Stein). Entretanto, ciclicamente, talvez tenhamos de regressar às primeiras “moradas” e ao exterior do castelo, para, à maneira do Êxodo, levarmos connosco pessoas (incluindo a tua própria pessoa), em vez de “bichos de estimação”.

Caminhemos para o Reino que fica depois do deserto e, pelo caminho, anunciêmo-lo!

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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