Quaresma é mais um combate interior
[Leitura] Joel 2, 12-18; 2 Cor 5, 20 – 6, 2; Mt 6, 1-6. 16-18
[Meditação] O compate espiritual deste “tempo favorável” que é a quaresma não é “contra ti”, mas “contra o espírito do mal”. Terá de ser mais um combate interior, para que a Páscoa seja uma manifestação externa de vida à luz do Ressuscitado. Há sempre, no ocidente, o perigo de vivermos a quaresma com aspeto de “comércio espiritual”, mediante o qual − tão habituados que estamos a comprar tudo − queremos obter a graça de uma vida melhor, mesmo que espiritual, porventura sem termos que passar senão por uma cruz “à medida” ou “com dificuldade controlada”, ou, ainda, como diria Dietrich Bonhoeffer, uma “graça a baixo preço”.
Há quem diga que a “Quaresma é OJE” (Oração, Jejum e Esmola). Preferiria sugerir uma ordem lógica diferente, precisamente a que nos é apresentada por Jesus no Evangelho da Quarta-feira de Cinzas, a saber:
1.º Esmola “silenciosa” | 2.º Oração “escondida” | 3.º Jejum “formoso”
Segundo o meu humilde parecer, aquela ordem (OJE) coloca o pobre no final do processo do nosso combate espiritual, sendo que ele esperará o resultado da renúncia entre o jejum e a oração e estas atitudes quaresmais correm o risco de serem quantificadas e vistas. Porque não dar esmola, sem que a mão esquerda dê conta do que a direita dá? Uma está mais ligada ao hemisfério esquerdo do cérebro (mais calculista ou racionalista); a outra ao direito (mais intuitivo).
Se gerirmos a quaresma com a mão ou o himisfério esquerdo do nosso cérebro, vamos contabilizar oração e caridade e traduzi-los numas pequenas quantias (por mais bem intencionadas que sejam) para um descargo de consciência que nos ajude a “passar” para a Páscoa; se usarmos mais a mão ou o hemisfério direito, talvez possamos mergulhar no caudal de graça que nos vem da Páscoa do Senhor que nos permite caminharmos com a consciência de pobres (que partilham tudo), crentes (que rezam privadamente) e amados (que confiam, mesmo que tenham de passar “fome” por causa da partilha efetuada).
Uma vez dado, está dado. Puseste o pobre no início de um processo que se prolongará com o jejum que é, porventura, dessa partilha e a oração que é agradecimento por se encarnar a condição do pobre e síntese da sabedoria que nos vem de Deus. Pode até acontecer, no fim, que tomes consciência de que poderias ter partilhado mais! Seria um bónus para o pobre!
Não te esqueças que Deus Se enche de “zelo” em te acompanhar ao mais recôndito do teu coração, para que o rasgues sem te destruires, e para que de lá possa sair a vida nova do Ressuscitado, na tua Páscoa!
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo