No meio (do jardim) é que está a (árvore da) virtude?

[Leitura] Gen 3, 1-8; Mc 7, 31-37; Vídeo “O Sapinho”

[Meditação] Costuma-se dizer que “no meio está a virtude”. Mas não será sempre assim, pelo menos para a “árvore que está no meio do jardim” do éden. Mesmo que nos refiramos ao equilíbrio, é preciso ter em conta que no mesmo “meio” pode acontecer o desiquilíbrio. Por exemplo, no “meio” da multidão não houve ambiente para Jesus curar aquele “surdo-mudo”. Para que ele pudesse voltar a ouvir e a falar, Jesus precisou de o retirar da confusão, para o ligar à Sua fonte de cura. E a surdez física ainda não será a pior…

O homem, que desde a sua criação tem o dom de ser comunicativo, nem sempre consegue levar a bons efeitos esse dom. Por vezes, como o sapinho da história deste vídeo, cai no “poço” por causa das debilidades que se interpõem no caminho. Assim, de onde se esperava que ele se equilibrasse, entre o dom e o objetivo do caminho… era uma vez o “meio” (o dom) e a “virtude” (o bom objetivo para o qual Deus lho deu).

Po isso, se calhar, não é no meio que está a virtude, mas na forma com que o mesmo é utilizado ou vivido. E forma é imprescindível! Já todos nos demos conta de querermos dizer algo a alguém com quem nos queríamos reconciliar e, porque não pensámos bem no que deveríamos dizer para tal, estragámos ainda mais a relação… É porque não procurámos inpiração. O mesmo acontece com tantos meios de comunicação social… No pequeno filme proposto para refletir sobre esta liturgia, a surdez do sapinho fê-lo escapar à confusão em que os outros sapos o estavam a meter, pois ele tinha capacidades para saltar e os outros estavam a diminuí-las com o ar de “serpentes” com que estavam. Também o surdo da cena do  Evangelho não ganharia muito com a confusão da multidão, preferindo a ligação à fonte da cura que é Jesus.

A serpente do Génesis simboliza todo o tipo de interferências na comunicação do bem, entre a Palavra criadora (que tem a sua fonte em Deus) e a felicidade de cada pessoa (sediada no fundo de cada coração). No meio das multidões nem sempre está a virtude, mas, porventura, nas suas periferias… Ouvir e falar corretamente implica estarmos ligados a Jesus sem interfaces complicados, nem grupos de pressão de qualquer tipo. É por isso que é cada vez mais urgente o acompanhamento personalizado no percurso da fé, sem desprezar a importância da presença equilibraba nos pequenos grupos, através de um encontro onde se desbrave caminho para a comunicação da verdadeira felicidade.

A árvore da vida, da qual os nossos primeiros pais podiam comer, não estava no meio, mas lá… onde a serpente não podia chegar e eles se mantinham sempre em ligação com Deus, sem vergonha… Será que, nas nossas comunidades, os grupos e grandes assembleias não serão, por vezes, uma defesa para nos escondermos de um encontro personalizado com Deus?

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

%d bloggers gostam disto: