Liturgia pública: a “orla do manto”

[Leitura] Gen 1, 1-19; Mc 6, 53-56

[Meditação] A definição de Liturgia, na Igreja, inclui, como essencial, a característica de “culto público” (cf. Enciclopédia Católica Popular). Na verdade, o relato da criação mostra-nos Deus a traçar aquele que será, não só o ritmo da vida humana, como, também, o âmbito da relação e participação do Homem na sua obra criadora (cf. leitura do Génesis durante esta semana). Ao invés do que se possa pensar, Deus, cuja Palavra diz e faz, deu largas à imaginação no que toca à natureza e ao que o ser humano pode desfrutar dela, sem, porém, poder prescindir dessa relação como criatura Sua.

Na nova criação, Jesus aparece como portador da eterna novidade de Deus, recriando a existência humana. É a Palavra que continua a ser eficaz na recriação daquilo que foi destruído pelo mal e pelo pecado. Hoje, é pelo Espírito Santo que, na experiência espiritual cristã, Ele continua  a manifestar-Se, atraindo todos a Si. Frequentemente, é pelas doenças e feridas postas na “praça pública” que Ele chama, não a uma crítica desmesurada e estéril (como acontece em muito do jornalismo medíocre), mas a uma aproximação que, de um amplo “coração inclusivo”, pode fazer chegar as mãos enfermas à orla do manto do Mestre.

Pergunto: quanto da nossa vida cristã se “privatizou”? Quanto se remeteu para o foro íntimo do que é património espiritual comum? Vejamos: confissões individuais sem celebrações penitenciais (com a tomada de consciência de que o pecado traz consequências comunitárias); missas com intenções particulares com o consequente desleixo da participação de outrem (mesmo correndo o risco de não aparecer ninguém se não houvesse “intenções”); enfim, a maior parte das atividades extra-eclesiais, mesmo na tentativa de sair à praça pública, acabam por ser em espaço neutro e, quase sempre, com a participação de pessoas… já curadas! Será que o manto do Senhor chegará para os enfermos não crentes (os doentes que poderiam conhecê-Lo, para se poderem dar ao “luxo” de se aproximarem d’Ele)? Quanto da participação nos nossos movimentos eclesiais não é, na prática, a uma experiência de “luta de classes”? “Salve-se quem puder”− penso Cristo a não fazer parte deste clube! Pelo contrário…

Muito do que se celebra dentro, poderia ser relatado fora, para que todos pudessem ter acesso… estão aí as redes sociais… o Vaticano (www.vatican.va) dá o exemplo! E o Papa Francisco também, numa “liturgia da Palavra” fora do Vaticano!

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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