O martírio que configura com Cristo
[Leitura] Hebr 13, 1-8; Mc 6, 14-29
[Meditação] Quando ouvimos as histórias dos mártires, certamente, se formos capazes de empatia, sentiremos alguns arrepios, não sei se somente por uma ou se por duas razões: 1ª − Pela forma como o martírio se concretizou, levado a cabo por um inimigo dos valores da fé; 2ª − Pela coragem em manter-se fiéis na profissão da fé. A certa altura, já não sabemos, no martírio, o que é causa e o que é o efeito. Seja como for, é um testemunho de fé contracorrente em relação aos poderes deste mundo.
Não sei o que vale mais: se o martírio de sangue, realizado num holocausto humano; se o martírio quotidiano que nos faz morrer aos poucos na realização da missão evangelizadora. Mas estou convicto que ambos configuram com Jesus Cristo, para Quem a sinceridade e a humildade da confissão de fé do “bom ladrão” bastou, naquele momento, para o convívio no paraíso (cf. Lc 23, 43). Por isso, não é a quantidade dos atos de sacrifício que nos configura a Ele − o que faria com que fossemos colecionadores de sacrifícios para “ganharmos o céu”− mas o amor humilde e sincero com que nos identificamos a Ele nos momentos de adversidade em que somos chamados a dar testemunho.
Herodes confundia amor com mero prazer. Gostava de ouvir João Batista, mas não o amava. Deveria ser um amor-temor, por saber que o pensamento de João “habitava” a verdade da sua intimidade. Talvez nem Herodíades possuiria essa “chave”. Mas o seu algoz maior era a fama de rei, a manter a toda a força. O que poderá tornar as nossas comunidades comunhão de crentes que professam a fé diante das contrariedades deste mundo será o amor fraterno por todos: onde TODOS sejam destinatários.
É pena que, nesta memória de São Paulo Miki e companheiros, mártires, a Igreja não refira os nomes de todos os que deram testemunho (talvez seja por questões práticas de número de carateres!). Sem eles, nem sequer conheceríamos Paulo Miki. Não se passará assim com os nossos Santos mártires invocados em separado das comunidades que os fizeram testemunhas fiéis? É por isso que os “penduramos” muito distantes nos altares, mais fáceis de ser destinatários da pena com que sofremos o seu tipo de martírio, do que de imitar a sua constância da fé. Ser santo fraterno − penso ser hoje a causa mais elevada na taxa dos martírios, já que o amor universal que o promove não é compatível com a conquista e o registo da patente individualizada de “santas” virtudes.
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo