Acolhes melhor Jesus se não O vires como um mero “conterrâneo”
[Leitura] Hebr 12, 4-7. 11-15; Sal 102 (103); Ev Mc 6, 1-6
[Meditação] Todos nós já nos confrontámos alguma vez com o porreirismo que assola alguns grupos humanos, na Sociedade e na Igreja. Costuma dar-se conta da sua existência quanto decresce o nível das relações humanas, por estarem demasiado antropocentradas, assim como os objetivos das mesmas. Acontece (por vezes) quando um médico e um paciente são amigos e,na consulta, põe em segundo plano a medicina e a doença; acontece (por vezes) quando um padre é chamado a deixar uma paróquia para servir outra e, na transição, não se reconhece Jesus Cristo, nem no outro que vem para trazer novidade, nem no trabalho pastoral que foi desenvolvido pelo que a deixa; etc. etc., certamente não seremos imunes à capacidade da observação de circunstâncias destas.
Simeão não mentia e a Luz que lhe apareceu diante dos olhos confirmava: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; (…) assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações» (Lc 2, 34-35). Querer, somente, que Jesus seja um “amiguinho”, um cá-dos-nossos (expressão conotada não reramente com que-nos-compreende-e-satisfaz-os-nossos-desejos), é querer que Ele seja unicamente o «carpinteiro, Filho de Maria, irmão de…»; e ignorar ou não aceitar que Ele seja o Verbo de Deus incarnado, como se professava com a heresia do arianismo iniciada no séc. IV. Uma familiaridade não fundamentada na Palavra de Deus pode prejudicar a relação com o Mestre e com a sua missão. Não é de estranhar (não fiquemos “perplexos”!), portanto, que muitas vezes os relacionamentos dentro da pastoral ou nos compromissos sociais de onde se esperavam êxitos, por vezes, só prometam abrolhos.
A solução parece estar nos “arredores” que, hoje, o Papa chama de “periferias”. Se todos mantivermos professantes e comprometidos a partir de relacionamentos abertos à mudança e à transitoriedade das coisas deste mundo para o Reino de Deus, não só será mais fácil acolhermos a Santidade que é graça de Deus, segundo a misericórdia que Ele manifesta a quem O teme, mas também conseguiremos ser facilitadores do Seu projeto no mundo, como discípulos-missionários (que saem porque acolhem…). S. João de Brito, no séc. XVII, preferiu dedicar a sua vida servindo outro Rei, dilatando a fé entre os povos asiáticos, a ficar ligado à corte como pajem. Para si, o lucro foi o martírio… e, para nós, a possibilidade do Reino. «Sem uma vida santa… ninguém verá o Senhor!» É, de facto, mais fácil imitar e seguir Jesus Cristo através do exemplo dos Santos!