Ir às periferias, entre a urgência e a proximidade, a familiaridade e o anonimato

[Leitura] Hebr 12, 1-4; Mc 5, 21-43

[Meditação] Já todos fomos, certamente, introduzidos no novo “mapa” da pastoral que o Papa Francisco nos convidou a habitar − o das “periferias existenciais” − através de um novo título no “cartão de identidade” de cristãos: o de discípulos-missionários. “Habitar” ou “viajar” neste novo “mapa pastoral”, para além da habituação ao termo, à realidade ou às atitudes que ele impõe, ainda nos merecerá algum aprofundamento, se quisermos ser sérios portadores daquele “cartão de identidade”, sem a fuga da tomada de posição frente ao que se apresenta como “perferia”.

Na cena evangélica deste dia, Jesus convive com o que o Papa chama de “periferias existenciais”, uma apresentada como urgência e outra como proximidade. Uma e outra parte do mesmo caminho, uma e outra em confronto, talvez uma e outra instrumento recíproco… de ambas. Numa e noutra situação, Jesus é provocado: de dentro do referencial religioso oficial (Jairo é chefe da Sinagoga), a declaração da urgência; do escondimento na multidão (certa mulher anónima), o gesto inoportuno. Ambos pedem de Jesus algo: a pressa que obriga, a força que sai. O que será mais urgente? Quem estará mais próximo?

Está claro: Jesus põe-se a caminho (foi com ele) e, entre os “apertos da multidão”, não pensa só na direção a tomar pela indicação do “gps” da urgência, mas está atento, também, ao “susto” e às “tremuras” causadas por uma manifestação próxima de fé. Neste seu caminhar, Jesus ensina-nos que o cuidado pastoral é uma questão de gestão pastoral no tempo e no espaço, entre a familiaridade e o anonimato. Não será fácil… Talvez implicará termos os “olhos fixos em Jesus”, “guia da nossa fé e autor da sua perfeição”. “Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a cruz…”.

Quantas vezes, o que é oficial nos declara o que é “mais urgente”, tirando-nos a força que deveria ser partilhada com quem é anómimo e precisa, também, dessa pertença comunitária. Se Jesus não é “privado”, os dons que deposita numa comunidade também não são “privados”. Logo, dê-se mais urgência às situações anónimas e não só às que se apresentam diante dos nossos olhos no “foro oficial”, saindo ao encontro com iniciativas novas, experimentando-as, ainda que nos saiam “forças” económicas e físicas da pele… Use-se a proximidade de quem é mais familiar (apenas Pedro, tiago e João…) para declarar que (aos de dentro, como aos de fora) não é preciso ter medo, basta que tenhamos fé! Jesus dá ordens à vida, para que se levante e se gaste em favor de todos!

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