Reino de Deus: uma pequena e corajosa semente que cresce
[Leitura] Hb 10, 32-39; Mc 4, 26-34
[Meditação] Ao lermos o relato, em primeira pessoa, da experiência de prisão num campo de contentração por Viktor Frankl, compreenderemos melhor o que lemos na Carta aos Hebreus: «compartilhastes os sofrimentos dos prisioneiros e aceitastes com alegria a espoliação dos vossos bens, sabendo que possuís riqueza melhor e duradoira». O septuagésimo aniversário da libertação de Auschwitz (27jan.2015) obrigou-nos a revisitar o terror vivido pelos judeus e, ao mesmo tempo, a contemplar a força de viver dos sobreviventes, uma vez que, para além do assassinato em massa da maioria, muitos perderam a esperança e deixaram de lutar pela vida. A experiência da nudez e da expoliação é o ponto de partida de Frankl, sendo o ponto de chegada o legado que nos deixou (o seu “filho espiritual”): a tese da busca do sentido da vida e a logoterapia (V. FRANKL, 1992).
A liturgia de hoje fala-nos da perseverança como intrumento para “alargar” a esperança. Tudo o que é semeado neste terreno, mesmo quando ele é estigmatizado com os espinhos do sofrimento, vai ter o seu crescimento sem quem o semeia saber como. O “grão de mostarda”, mesmo pequeno, tem de morrer para dar fruto. Foi assim com Jesus Cristo: morreu; e olhemos a “grande árvore” da Nova Aliança. Se os judeus conseguiram alargar a esperança esperando ainda pela primeira vinda de Jesus Cristo, porque não haveriam os cristãos de “habitar” essa esperança com a certeza de um Amor semeado e a crescer e a frutificar? Prova de que é possível é a forma como os atuais cristãos perseguidos dão prova de fé.
Deus faz crescer ou progredir tudo o que for semeado para Sua maior glória. O que não podemos é desistir de esperar, mesmo que o ato de semear tenha fases e o terreno nem sempre seja apto. Continuar a semear a Palavra é imperativo para que não retrocedermor ou regredirmos. A força que combate contra o milagre da evolução é a entropia, definida como a tendência para se regressar ao estado inicial de desordem. A Palavra de Deus, semeada nas nossas vidas e transportada para todas as dimensões da experiência humana, permite-nos ir mais além que aquela tendência natural, o que, muitas vezes, implica irmos pelo “caminho menos percorrido” (SCOTT PECK, 2011).