Para pescar homens, uma rede humana

[Leitura] Jn 3, 1-5.10; 1Cor 7, 29-31; Mc 1, 14-20

[Meditação] Neste 3º Domingo do Tempo Comum, aparece Jesus, no início da sua vida pública a anunciar o Reino de Deus, com a proposta da conversão e a fé no Evangelho. Para isso, não perde tempo com projetos, pois o projeto é o de Deus, seu Pai. Começa, logo de início, a covidar homens que queiram fazer parte da realização desse projeto. Chama os Apóstolos.

“Farei de vós pescadores de homens”. Estou a ver estes primeiros chamados, não obstante a incompreensão do mistério, a preferir esta “rede humana” do que as redes que estavam a lançar ou a consertar. Talvez, até, porque a pesca não estivesse a ser abundante, como tudo na vida, quando refletimos na precaridade e efemeridade em relação ao que é eterno.

No “mar” da humanidade pesca-se com “rede” de laços humanos. Não precisará a nossa pastoral de aprender com esta pedagogia de Jesus? O “farei de vós” fala de uma relação antes de uma ação. Uma relação em que o Mestre constroi a pessoa de cada Apóstolo, a fazer parte de uma rede especial que atrai para o Reino de Deus.

Estamos a culminar a experiência de oração pela unidade dos cristãos. Com o pedido que Jesus fez à samaritana – «Dá-me de beber» (Jo 4, 7) – Ele ensina-nos uma forma de criar esses laços que compõem a rede para grande “pesca” do Reino: o de não condenar, mas de aproveitar o que cada um tem para dar. A samaritana só Lhe pode saciar a sede física com a água do poço – imagem da pessoa que vive os seus dramas e conquistas ineficazes de felicidade. Mas ela tem o que “sacia” a pessoa de Jesus: sede de ter Sede daquela “água viva” que ilumina verdadeiramente. Por isso, ela passa a fazer parte da rede de Jesus e vai anunciá-Lo aos outros…

Na comunidade e, sobretudo, nas periferias, ainda não esgotámos de todo esta capacidade de levar a sério o ser de cada pessoa, mesmo que à partida nos pareça uma canseira e uma fonte de problemas no lidar com toda a gente. Absolutamente: cada um tem algo para dar, nem que seja uma fraqueza… que nos obrigará a procurar uma solução. Se não fosse assim, Jonas não teria ido a Nínive como enviado especial e o Apóstolo Paulo não teria feito tantas viagens para perceber e anunciar que a experiência neste mundo é, de facto, uma passagem!

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