As dimensões da formação sacerdotal
É muito eloquente a imagem da forja para falar da formação. Já o Livro dos Provérbios a evoca – «O ferro com o ferro se aguça, e o homem afina-se no contacto com os outros» (27,17) – quando aconselha o homem a buscar a sabedoria e a largar a insensatez.

Assim, temos o ferro, elemento natural que o homem, inspirado por Deus, deseja usar para um fim nobre. Temos o fogo que nos ajuda a ver a centralidade da formação (dimensão) espiritual, única força capaz de provocar o ferro , transmitindo-lhe docilidade a pontos de se deixar moldar numa nova realidade. Temos entre estas duas forças – a rigidez do ferro e o calor do fogo – elementos que interagem em favor daquela relação, nem sempre fácil, entre o ferro e o fogo: a bigorna significa a dimensão intelectual, onde está implícito um quadro de referência de valores e conteúdos capazes de abrir a consciência àquele “fogo”; e o martelo que, das mãos do homem experiente, colabora na reacção do ferro que é aproximado do fogo, nesta interacção que acontece na dimensão humana.
Outros parâmetros se acrescentam para o trabalho do formando e formador (ferro e serralheiro): o vento que aviva o fogo – elemento misterioso e sobrenatural – e o tempo – nas etapas que ajudam a que o produto final ganhe a forma necessária e pretendida pelo criador.
Falta uma dimensão? Neste quadro talvez não, mas no quadro da dimensão pastoral: o ferro já transformado, em que o fogo perde a sua cor aparente para dar lugar a uma força interior, é posto em missão, a ver se serve para aquilo para que foi moldado. Quem o observa já não vê a ardume do fogo, mas a sua força transposta na matéria robusta, no entanto, de vez em quando, a precisar do mesmo calor para afinar o engenho.