Respeito

Assim, cada acto se empenha numa escolha que busca o bem, sempre em tensão entre um bem ilimitado e os bens particulares. A pessoa não pode jamais dizer-se realizada num só acto particular, mas ao mesmo tempo, sem os actos particulares, não
pode existir. O valor da pessoa está suspenso entre o seu fim ilimitado e o modo particular de ser limitado. É em referência a esta situação (ou suspensão) que Kant recorreu ao conceito de respeito como mediação entre estes dois aspectos de «fim» e de «modo de ser».A palavra respeito vem de respicere e quer dizer olhar para, mas o seu significado também compreende: considerar, estimar, honrar, apreciar, admirar, cuidar, providenciar… e avaliar, no sentido de atribuir valor. Não se trata, pois, de um olhar na sua componente cognitiva, mas um olhar que é relação e valorização. O valor da pessoa vem envolvido como presença plena e ao mesmo tempo como realidade que não se esgota nem se realiza totalmente num acto concreto.
Através do respeito, a pessoa exprime e realiza a sua pertença a dois universos: o mundo sensível e ao mundo inteligível da razão. O sujeito abre-se e “obedece” a uma realidade que o supera, mas também é, ao mesmo tempo, soberano que comanda. A sensibilidade pode ser determinada pela razão, a faculdade de desejar é controlada pela racionalidade que a eleva para além da dua pura natureza. É por isso, que o respeito é muito necessário na ética dos valores e, de forma especial, na experiência religiosa da pessoa, dimensões em que ela é chamada a procurar a profundidade do ser.
Assim apresentado o conceito, é ou não é redutor atribuir-lhe o significado de temor pelos mais velhos, muitas vezes tendencialmente marcado pelo autoritarismo? Sendo uma atitude a ter diante do mistério da pessoa, da vida…, então o respeito só o é quando admiração ou consideração recíproca.