«Que procurais?» (Jo 1,38)
Onde é que estará a maior surpresa do seguimento de Jesus? No Mestre que se esconde? Ou no discípulo que O procura?
Aquela pergunta de Jesus pretende certamente ser um purificador de intenções para quem se aproxima d’Ele para O seguir. Ele quer certificar-se que os seus seguidores O sigam por Ele e não por outras motivações. Porque há seguir e seguir, há procura e procura. Existe a procura sincera e humilde, como a de Samuel, e a procura como as multidões ambíguas, depois do sinal da multiplicação dos pães, procurando-O para O proclamarem Rei. Existe também a ilusão de quem pensa procurar Cristo, mas na realidade só procura a si mesmo.Aquilo que se procura, por fim, é uma pessoa, que se pode capturar e abraçar. E para que esta procura seja frutuosa, requerem-se disposições indispensáveis: que não se procure às cegas, que não nos movamos ao calhas, mas aceitemos o testemunho de quem já O encontrou. Como acontece, pois, com os dois primeiros discípulos: bastou escutarem o testemunho de João Baptista, apenas o viram apontar o Cordeiro de Deus e meteram-se imediatamente debaixo do seu rasto. E esta é a segunda condição: não se pode procurar permanecendo imóveis, arrogantes sobre as próprias posições, presos às próprias atitudes mentais, bloqueados por objectivos e interesses pessoais; é necessário desacomodar-se, sair, encaminhar-se naquela direcção. Como fizeram os Magos, como fez Zaqueu, também o cego de Jericó, que como nos diz Marcos, se pôs a segui-Lo pelo caminho. Como Samuel!
Através do episódio de Samuel, aprendemos que seguir Jesus é, antes de mais, uma atitude de escuta, de visão e do coração, para depois ser das pernas e das mãos. Uma coisa e outra se envolvem, lógica e cronologicamente. Nós opomos o verbo ver a crer. Mas o evangelista João não: ver e crer são a mesma coisa. De que visão, afinal, se trata? Não é a de uma pura inteligência. Tratar-se-á, mais, de colher o que num simples momento nos acontece, acolher uma pessoa que nos aparece, seguir aquele rasto que nos leva ao Messias.
Nas linhas da Carta aos Coríntios que hoje escutámos, o dedo do profeta aponta-nos para o nosso interior: o nosso corpo, que é templo do Espírito Santo, os nossos corpos que são membros de Cristo. Com S. Paulo percebemos que quer a nossa condição pessoal/interior, quer a condição comunitária, são lugares do mistério de Cristo.Hoje, os psicólogos que desenham uma antropologia cristã, apontam alguns fenómenos como lugares onde habita o mistério do homem que procura Deus: o tempo, o riso e o jogo, o próprio acto de procurar, a dor, a solidão (não isolamento…), a insatisfação, assim como alguns momentos privilegiados que, por vezes, somos levados a viver, como oportunidades para nos abeirarmos do mistério de Deus: os Sacramentos, acontecimentos inesperados, a relação com os outros, a grandeza, a consciência, as sombras e as dúvidas, as doenças mortais, etc.
Há muitas pessoas e circunstâncias que nos levam a Jesus. É necessário aproveitá-las!