«Que procurais?» (Jo 1,38)

Algumas traduções manifestam a pergunta como «Que pretendeis?». São as primeiras palavras do Mestre no início da sua vida pública. Ele esteve escondido durante os trinta anos que viveu na sua Família de Nazaré. Depois do Baptismo a que se para nos dar o exemplo, vai a chamar os primeiros discípulos.

Onde é que estará a maior surpresa do seguimento de Jesus? No Mestre que se esconde? Ou no discípulo que O procura? Aquela pergunta de Jesus pretende certamente ser um purificador de intenções para quem se aproxima d’Ele para O seguir. Ele quer certificar-se que os seus seguidores O sigam por Ele e não por outras motivações. Porque há seguir e seguir, há procura e procura. Existe a procura sincera e humilde, como a de Samuel, e a procura como as multidões ambíguas, depois do sinal da multiplicação dos pães, procurando-O para O proclamarem Rei. Existe também a ilusão de quem pensa procurar Cristo, mas na realidade só procura a si mesmo.

Aquilo que se procura, por fim, é uma pessoa, que se pode capturar e abraçar. E para que esta procura seja frutuosa, requerem-se disposições indispensáveis: que não se procure às cegas, que não nos movamos ao calhas, mas aceitemos o testemunho de quem já O encontrou. Como acontece, pois, com os dois primeiros discípulos: bastou escutarem o testemunho de João Baptista, apenas o viram apontar o Cordeiro de Deus e meteram-se imediatamente debaixo do seu rasto. E esta é a segunda condição: não se pode procurar permanecendo imóveis, arrogantes sobre as próprias posições, presos às próprias atitudes mentais, bloqueados por objectivos e interesses pessoais; é necessário desacomodar-se, sair, encaminhar-se naquela direcção. Como fizeram os Magos, como fez Zaqueu, também o cego de Jericó, que como nos diz Marcos, se pôs a segui-Lo pelo caminho. Como Samuel!

Através do episódio de Samuel, aprendemos que seguir Jesus é, antes de mais, uma atitude de escuta, de visão e do coração, para depois ser das pernas e das mãos. Uma coisa e outra se envolvem, lógica e cronologicamente. Nós opomos o verbo ver a crer. Mas o evangelista João não: ver e crer são a mesma coisa. De que visão, afinal, se trata? Não é a de uma pura inteligência. Tratar-se-á, mais, de colher o que num simples momento nos acontece, acolher uma pessoa que nos aparece, seguir aquele rasto que nos leva ao Messias. Nas linhas da Carta aos Coríntios que hoje escutámos, o dedo do profeta aponta-nos para o nosso interior: o nosso corpo, que é templo do Espírito Santo, os nossos corpos que são membros de Cristo. Com S. Paulo percebemos que quer a nossa condição pessoal/interior, quer a condição comunitária, são lugares do mistério de Cristo.

Hoje, os psicólogos que desenham uma antropologia cristã, apontam alguns fenómenos como lugares onde habita o mistério do homem que procura Deus: o tempo, o riso e o jogo, o próprio acto de procurar, a dor, a solidão (não isolamento…), a insatisfação, assim como alguns momentos privilegiados que, por vezes, somos levados a viver, como oportunidades para nos abeirarmos do mistério de Deus: os Sacramentos, acontecimentos inesperados, a relação com os outros, a grandeza, a consciência, as sombras e as dúvidas, as doenças mortais, etc.

Há muitas pessoas e circunstâncias que nos levam a Jesus. É necessário aproveitá-las!

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