Insatisfação: característica fundamental…

A insatisfação é a característica fundamental da humanidade. Santo Agostinho expressou-a com a expressão “coração inquieto”. É o coração que está entre dois tipos de quietude, dois tipos de repouso que aparecem, ambos, ilusórios, pelo menos no que toca à sua plena realização: por um lado, o repouso do prazer, de onde a dor, a ânsia, a tensão penosa devem ser excluídos; por outro, a felicidade, como o cumprimento do conjunto de todas as potencialidades e expectativas da pessoa.
Como nos dizia Pascal, “nada é assim tão insuportável para o homem quanto o ser em pleno repouso, sem paixões, sem afazeres, sem divertimento… ele sente o seu nada, o seu abandono, a sua dependência, a sua impotência seu vazio. Rapidamente, sairá do fundo da sua alma a nóia, a obscuridade, a tristeza, a aflição, o desgosto, o desespero”.
Enquanto que o animal que satisfez as próprias necessidades imediatas aparece fundamentalmente “apagado”, o homem, que está como no limite de dois universos, não o é jamais. Por isso, Descartes diz-nos que o homem é como que o ponto mediano entre o ser e o nada.
O ponto central da antropologia não se prende, agora, com o aspecto do limite e do infinito, mas com a tensão entre os dois. O atributo da insatisfação, fazendo experimentar a falta, atira a procurar o sempre mais. Esta experiência faz parte da comum sabedoria, segundo a qual quanto mais se tem, mais se quer ter, porque não há limites para o desejar humano; o possuir, o sucesso e o alcançar as mais altas metas humanas jamais porão fim, dentro do mistério da temporalidade, à procura e à inquietude do coração.
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