O "migrar" ministerial em tempo de verão

As aves migram constantemente em busca de alimento, viajando para o norte ou sul em busca de climas mais quentes*. Seguem, por isso, a direcção do vento, o sol e a paisagem com sentidos próprios para se deslocarem ao entontro de condições mais propícias à sobrevivência.
Passe a comparação aplicada às mudanças ministeriais que acontecem normalmente por esta ocasião veraneia.
Sugiro a reflexão apoiando-me na inversão da metáfora:
Quando um padre se desloca de uma ou várias paróquias para dedicar o seu ministério a outro espaço ou serviço ministerial, deixa uma estação “quente” da sua vida, transportando certamente a experiência e a memória dos trabalhos e das relalções humanas que serviram de mediação entre Deus e a humanidade que lhe fora entregue à sua missão.
Imagino que faz, nesta mudança, um caminho inverso ao das aves. Leva aquele “alimento” da sua experiência adquirida para outras terras e lá permanece a partilhar os seus dons. Talvez esteja nesta imagem uma simples, mas eloquente, explicação do mistério da incarnação: a discese que o padre é chamado a fazer, imitando a kenose de Cristo que sendo rico Se fez pobre**.
Daqui resulta uma conclusão que pode ajudar os “migrantes” ministeriais a não perder os benefícios da própria mudança que, para além de necessária e benéfica, é sempre dramaticamente desinstaladora.
Se considero uma pessoa como ela é, vou influencia-la a ser pior; se a tomo em conta como há-de ser, vou ajudá-la a ser melhor. Apliquemos esta verdade pedagógica às comunidades em tempo de mudança, respeitando a continuidade da sua história concreta e a realidade dos seus recursos e potencialidades já existentes, sem contudo perder o centro da “linha equatorial” que é Cristo, de quem o padre é chamado a ser sempre renovada referência.
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* Cf. http://www.animalplanetbrasil.com/guia_aves/vivem/migracao/index.shtml.
** Cf. 2 Cor 8,9.

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