O Evangelho deste 12º Domingo do Tempo Comum (B) relata-nos uma circunstância … que tanto nos pode abrir os olhos para a realidade das Igrejas, como para a realidade dos grupos humanos, como é o dos migrantes e refugiados. Digo das Igrejas, porque Marcos nos relata diversas “embarcações” e não só uma. Ele ia numa, mas não podemos pensar, por um lado, que todos os discípulos coubessem numa, nem, por outro, que, a Sua Presença pudesse ser posse exclusiva de um grupo só. Reparemos que, apesar da sua presença física, “limitada” às circunstâncias do tempo e dos espaço, os discípulos daquela barca onde Ele parecia adormecido, não reconheceram à primeira, como prova a pergunta “Quem é este homem?”. Agora, como Ressuscitado, pela fé, está presente em todas as “trajetórias” da humanidade, onde constantemente convida a ir para a outra margem.
Os discípulos já tinham constatado o seu poder de curar pessoas, mas ainda não o tinham presenciado o seu poder de moderar os elementos da criação e os fatores externos que intimidam o Homem, para que afrouxem o o seu ímpeto ameaçador. É curioso que aqueles elementos que, no Antigo Testamento são sinais da presença do poder de Deus pela sua manifestação impetuosa, agora curvam-se ao convite da singeleza feito por Jesus, sendo que a serenidade da travessia carateriza a Boa Notícia contida no Novo Testamento.
A tempestade gera uma crise emergente, que aflige os discípulos, não só os da barca, mas imagino em todas as embarcações. Porém, revela-se aqui um outro tipo de crise: aquele que os seguidores de Jesus sofrem quando imaginam que o Mestre não lhes liga diante daquela frustração.
Portanto, o duplo poder de Jesus manifesta-se quer no cuidado para com cada pessoa, diante do mal individual, e no cuidado para com as comunidades, diante dos males que assolam as coletividades. As crises humanas parecem aparentar, à luz desta liturgia, esta dupla variante: medo das manifestações da criação (algumas delas derivadas do mau modo de o ser humano a habitar) e medo da falta de atenção e proteção por parte d’Aquele que se crê ter o poder de salvar.
Concluindo, a resiliência cristã não pode ser menos do que este duplo poder diante dos vários tipos de crise. A mesma será, como se espera das comunidades cristãs diante dos refugiados, por exemplo, sinal da presença de Jesus nesta grande “barca” que é esta “casa comum” a que chamamos Terra.
Confiaremos que o Senhor não dorme, quando nos atrevermos a perguntar diante de qualquer ser humano “Quem és tu?”, de onde ouviremos a resposta crente “Sou Eu, a quem socorreis”.